Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, foi em sua época o homem mais poderoso do mundo, todavia, ficou conhecido esta frase: “A moderação é sempre a tática preferível”. Cinco séculos depois, a Europa estava arrasada por duas Guerras Mundiais. Foi quando, em 1951, o chanceler francês Robert Schumann convidou Konrad Adenauer, chanceler da República Federal da Alemanha, para uma aliança que visava, sobretudo, evitar que novas guerras destruíssem o continente, o que tem sido obtido em parte.
Era o nascedouro da Comunidade Europeia, que nessas sete décadas avançou e hoje compartilha regras fiscais e de cidadania, evoluiu para uma moeda comum, o Euro , em 1989, e atualmente configura a União Europeia (UE), um bloco de 27 países que recentemente passou por uma prova de resistência, enfrentando o nacionalismo radical e extremista que sacudiu o mundo nas duas grandes Guerras Mundiais, atualmente expresso na França por Le Pen e o Reunião Nacional, ferozes antagônicos à UE.
Embora, na França, o extremismo de direita de Le Pen tenha moldado o seu discurso, já não é antissemita nem contesta as instituições democráticas como o faz nos EUA e no Brasil. Mantém o discurso nacionalista, anti-imigração e anti-integração global (no caso, anti-UE continental) como plataformas programáticas. Fez-se necessário um “cordon sanitaire” formado pela aliança entre o centro, a esquerda e a extrema-esquerda para barrar a ascensão da extrema-direita. Algo semelhante ocorrera alguns dias antes no Reino Unido, onde o Partido Trabalhista ganhou as eleições dos tories, mas antes disso precisou afastar suas lideranças de esquerda radical e se aproximou do centro. Na Inglaterra, os conservadores não se misturam com a extrema-direita, que lá é irrelevante.
As regras eleitorais na França fixam dois turnos e facilitam as alianças pela moderação, assim como as regras fiscais limitam que os primeiros-ministros adotem posições antimercado. Dessa forma, o futuro primeiro-ministro francês deverá ser um moderado. Mas o governo precisará reconhecer os custos da imigração e da integração regional, implementar soluções concretas e apresentar uma narrativa que vença o pessimismo reacionário em um mundo pós-Covid, onde o crescimento econômico é baixo e a inflação é alta.
As alianças republicanas entre partidos e tendências de centro e de esquerda que respeitem as instituições democráticas e o processo eleitoral, vitoriosos nas últimas eleições brasileiras, com Simone Tebet e Geraldo Alckmin pelo centro. O caminho para a manutenção da democracia é aquele preconizado por Confúcio: “O Mestre disse, quem se moderar, raramente se perde”. Inexiste moderação na extrema-direita.
A única possibilidade de errar, aprender e corrigir os erros é a democracia. E o centro político, representado na França por Mácron, um político que acredita em uma sociedade aberta e plural, segue como uma bússola concreta da moderação na democracia.