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Cidades

PAIS REVELAM LIGAÇÃO INTENSA COM OS FILHOS DEVIDO À PANDEMIA

Eles relatam dificuldades para adaptação ao trabalho remoto e receio ao sair de casa

Por Clariza Santos | Edição do dia 08/08/2020

Matéria atualizada em 08/08/2020 às 07h20

| Acervo pessoal

O Dia Dos Pais, celebrado no segundo domingo de agosto, este ano será diferente por causa da pandemia da Covid-19. Papais, que já estão em isolamento social há meses, retratam que tiveram de se reinventar durante esse período. Eles contam à Gazeta como está sendo o processo de adaptação da rotina e também como será a comemoração neste domingo (9). Danilo Lessa, de 37 anos, supervisor comercial e papai de Guilherme, de 6 anos, relata os desafios enfrentados durante a epidemia. “O maior desafio é tentar se reinventar diante de um cenário nunca imaginado antes, econômica e socialmente falando, quando, de repente, por uma questão de amor, prudência e respeito ao próximo, você se vê obrigado a praticar isolamento social, nos obrigando na grande maioria das vezes a nos afastar inclusive das pessoas que a gente ama”. Para Danilo, é uma fase de adaptação porque muita coisa vai ser diferente de agora em diante. No trabalho dele, grande parte foi feito em formato home office, até o decreto que liberou a abertura de lojas com mais de 400 m². “Atualmente, venho trabalhando parte de forma presencial e outra em home office”. Como toda mudança, no início, ainda segundo o relato do papai de Guilherme, surgiram algumas dificuldades, como poder estabelecer uma rotina adequada de trabalho, adaptar a casa aos serviços antes desempenhados no estabelecimento comercial e, com tudo isso, a maior dificuldade era a de convencer o filho de que, mesmo estando em casa, o momento destinado ao trabalho precisa ser respeitado.

“Sem sombra de dúvidas, a pandemia nos afetou em vários aspectos da vida cotidiana. O medo de contrair uma doença. O distanciamento dos familiares e amigos, principalmente dos mais idosos, por serem um grupo de alto risco, há poucos meses, era algo completamente inimaginável. Financeiramente, foi uma situação que pegou todos de surpresa, com o mercado consumindo menos, o volume de vendas diminuiu muito, o que afetou diretamente o meu faturamento mensal. Foi preciso reduzir custos e se readaptar a esse novo momento da economia”, relata Danilo Lessa.

Sobre a ligação com o filho, o supervisor comercial diz que é de um valor incomensurável. “Já tínhamos uma ligação forte e que está muito mais fortalecida agora. Hoje, quando preciso sair pra trabalhar de forma presencial, ele me questiona, “pai, por que você não trabalha em casa?”. Em todas as circunstâncias da vida, é preciso tentar extrair algo de positivo, no meio de toda essa crise, poder estar próximo do meu filho me fez enxergar a vida com outros olhos, o que de fato vale a pena”, conta Danilo. Com relação a ter que sair de casa para ir às compras, por exemplo, Lessa diz que tenta fazer o máximo possível para evitar a exposição do filho aos fatores que podem gerar contaminação pelo vírus. “Passa a maior parte do tempo em casa. Quando é preciso ir para locais onde existem grande volume de aglomeração de pessoas, como supermercados, não o levamos, e se for realmente necessário sair de casa, fazemos utilização de máscaras, bem como seguimos as orientações de higienização”. O videomaker Rollemberg de Morais Pessoa, de 30 anos, pai da pequena Marina, retrata que teve dificuldade de criação e produção no trabalho, além de dificuldades nas finanças porque trabalha com eventos, em sua maioria casamentos. “A rotina de trabalho está totalmente prejudicada. Parei 50% da produção e 50% consigo exercer em home office, desde o inicio da quarentena, tornando-se bem complexo vincular a atenção a minha filha e o trabalho, mesmo tentando conciliar os dois”, salienta. Com a mudança na rotina, Rollemberg conta como está a ligação com a filha Marina. “Como já existia um convívio diário e eu sempre conciliava o trabalho em casa, nossa ligação continuou a mesma”. Para o videomaker, o maior sacrifício e maior desafio é o isolamento social. “Restringir os passeios dela, ter que nos privar de certas comodidades para que não trazer riscos para casa, certamente está sendo desafiador”. O advogado Rodrigo Aragão, de 31 anos, e pai de Theo, de 1 ano e 7 meses, relata que um dos grandes desafios que enfrentou foi a mudança de rotina, porque ele e a esposa tiveram de dispensar a babá por questões de segurança. “Então, a partir daí, era somente comigo e minha esposa. Nós tínhamos que dar conta de tudo ao mesmo tempo: casa, trabalho, filho, etc. Tem sido bastante pesado”. Por ser autônomo, muitas vezes ele precisa sair de casa para resolver questões do trabalho. “O que posso, resolvo de forma remota, porém certas coisas só presencialmente mesmo. A minha atividade profissional ficou parcialmente paralisada em razão da pandemia”. Como Rodrigo é advogado criminalista, ficou por 4 meses sem poder comparecer ao sistema prisional. Muitas audiências foram canceladas e remarcadas para uma data futura. Nas prisões em flagrante, as audiências de custódia também não estavam acontecendo. Somente agora em agosto é que o Poder Judiciário está começando, aos poucos, a retomar suas atividades. E, devido a essa situação, evitava sair de casa para não oferecer risco ao filho e à esposa. “Em relação ao meu filho, sempre tive que revesar com minha esposa. Eu ficava com ele enquanto ela trabalhava e vice-versa. Apesar de ter sido bem puxado, acabou dando certo”, contou Rodrigo. O advogado conta ainda que sentiu dificuldade financeira nos primeiros meses, março e abril, e que o psicológico também foi afetado pela pandemia do novo coronavírus. A partir de maio as coisas começaram a melhorar um pouco. Psicologicamente, sem dúvida, creio que muita gente foi afetada, inclusive eu. Em alguns momentos eu quis marcar consulta com psicólogo, porque toda essa mudança estava mexendo demais com minha cabeça, mas a correria dentro de casa, o trabalho e cuidados com o filho eram tão grandes que acabei não marcando a consulta com o profissional”. Sobre a ligação com Theo, Rodrigo relata que “graças a Deus eu sempre tive uma ligação grande com meu filho”, por ser autônomo, tem um horário bem flexível. Então, por isso, contato com ele é grande no dia a dia. “Sendo que, com a pandemia, nossa ligação acabou aumentando mais ainda, o que achei ótimo. Inclusive, se tem algo de positivo na pandemia que eu posso destacar é isso: a ligação com meu filho ficou ainda mais estreita”. Desde o começo da pandemia, a maior preocupação do advogado sempre foi com o pequeno Theo. O maior medo dele, ainda segundo o relato, é contrair a Covid-19 e transmitir ao bebê. Sendo que, apesar do medo, ele conta que certas saídas são necessárias e que teve que alterar a forma de fazer a feira mensal.

“Em relação a isso [as compras], estamos preferindo os estabelecimentos menores aqui do meu bairro, já que supostamente são menos aglomerados do que os grandes mercados. E o trabalho também, igualmente, é inevitável em certos momentos. Em algumas ocasiões eu tive que sair para fazer o acompanhamento de presos em flagrante. Mas o que importa mesmo é que ninguém aqui na minha casa contraiu a doença até o momento. E isso, sem dúvida, é reflexo da nossa responsabilidade e cuidado”, concluiu.

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