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Cidades

BRASIL ESTÁ LONGE DE CONTROLAR A PANDEMIA, DIZ PESQUISADOR

Para Gabriel Bádue, houve desencontro de informações das autoridades e negação de evidências

Por regina carvalho | Edição do dia 08/08/2020

Matéria atualizada em 08/08/2020 às 06h00

| Ascom

Para o professor e pesquisador da Ufal, Gabriel Bádue, a comparação da situação brasileira, ou mesmo alagoana, com a de países que conseguiram efetivamente conter o avanço da transmissão, como os casos de Itália e Espanha, deixa claro que estamos distantes de um controle da pandemia. “Mesmo com a defasada política de testagem estabelecida pelo Ministério da Saúde e da subnotificação de casos e óbitos, que, entre as evidências disponíveis pode ser verificada por meio da notificação atípica de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Entendemos que esse cenário é fruto do desencontro de informações e orientações por parte de nossas autoridades, o que, somado com desigualdade e os graves problemas sociais brasileiros, refletem no descontrole observado”, analisa. A Gazeta pergunta se ainda há motivo para pânico ou se já é possível esperar com mais tranquilidade uma vacina para frear o avanço da Covid. Ele explica que, considerando os avanços científicos que fornecem novas evidências para o enfrentamento da doença e da experiência de diversos países que tiveram êxito no controle da pandemia, “acreditamos ser possível a mudança desse cenário em Alagoas e no Brasil desde que as autoridades adotem medidas efetivas de controle entre as quais destacamos as diretrizes divulgadas pelo Subcomitê de Epidemiologia ligado ao Comitê Científico do Nordeste para o enfrentamento da Covid em seu primeiro relatório, publicado na segunda quinzena de junho”, diz. Nesse documento, de acordo com Gabriel Bádue, o conjunto formado por mais de 20 epidemiologistas de diversas instituições brasileiras organizou as medidas de combate e indicadores de controle nas seguintes dimensões: evidências de controle da transmissão; capacidade de atendimento de vítimas da Covid-19; estratégia de identificação, monitoramento e isolamento de novos casos; monitoramento de locais vulneráveis, como abrigo de idosos e sistema carcerário e amplo debate com a sociedade na definição de políticas de enfrentamento da pandemia.

RELAXAMENTO

“Na minha opinião, a maior lição que essa doença nos traz é que não conseguimos superar crises dessa grandeza com ações individuais, com o ‘jeitinho brasileiro’. Neste ponto eu volto ao exemplo da Espanha e da Itália que, apesar de terem “desdenhado” da doença no início (como o presidente brasileiro), se fecharam durante quarenta ou cinquenta dias até atingirem condições seguras para a retomada das atividades. Enquanto isso, nós ficamos batendo cabeça, fingindo um distanciamento que efetivamente só ocorreu após os primeiros dias que seguiram o primeiro decreto do governo de Alagoas. Após esse período, cada decreto foi relaxando mais as medidas”, avalia Bádue. O professor da Ufal explica que essa situação, somada ao desencontro de informações das autoridades, a negação das evidências científicas que indicam medidas para o controle da transmissão, o adoecimento mental das pessoas após um longo período de confinamento e as grandes desigualdades sociais observadas na maioria de nossa população nos trouxeram a esse caos. “Na minha avaliação os números registrados até aqui justificam a preocupação e as medidas que vêm sendo adotadas ao redor do mundo para o enfrentamento da doença. Considerando os números brasileiros até 2 de agosto, temos uma letalidade igual a 3,4%, enquanto em Alagoas esse índice é de 2,6%. No entanto, considerando a subnotificação que normalmente existe, e no Brasil é agravada, as estimativas apontam para uma letalidade entre 0,5% e 1%. Esse número, que parece pequeno, é extremamente alto já que indica que a cada 100 pessoas contaminadas uma irá a óbito”, detalha. Bádue apresenta comparações para mostrar o estrago que a pandemia fez no Brasil. “A dengue atingiu em novembro de 2019, no pior ano de sua história, 2,7 milhões de contaminados no continente americano. Foram registrados 22 mil casos graves e 1.206 óbitos, o que faz com que a letalidade da dengue em seu pior ano tenha sido de 0,05%. Portanto, cerca de dez a vinte vezes menor que a da Covid-19”.

SITUAÇÃO NÃO ESTÁ DOMADA

A infectologista Sarah Dominique diz que é possível esperar a vacina, mas a tranquilidade não significa dizer que a vacina vai estar disponível este ano para distribuição em massa. Só em 2021, mas não há motivo para pânico. “Já conseguimos mostrar que os hospitais e as equipes de saúde estão preparados. No entanto, a população precisar ir com calma, pois a situação não está 100% domada”. Sobre as lições que aprendemos com a doença, ela ressalta a valorização dos profissionais de saúde, que sempre trabalharam no limite e nunca foram vistos como estão sendo hoje. Em relação aos números de infectados, mortos e curados até agora, diz que o Estado está caminhando bem dentro do cenário de pandemia. “Tenho visto isso através das doações de alimentos de restaurantes privados, de empresários que doaram os EPIs. Então, para mim, uma das maiores lições foi a empatia pelos profissionais de saúde. É o reconhecimento do profissional e da vida humana, que tem sido feita com muita empatia, solidariedade e altruísmo”.

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