Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 0
Cidades

DISTANCIAMENTO DEVE SER MANTIDO PARA EVITAR ‘EFEITO BUMERANGUE’

Para especialistas, apesar da queda do número de casos de Covid, nova onda não está descartada

Por regina carvalho | Edição do dia 26/09/2020

Matéria atualizada em 26/09/2020 às 06h00

Infectologista Sarah Dominique diz que Covid deve se tornar endêmica
Infectologista Sarah Dominique diz que Covid deve se tornar endêmica | Marcel Vital e Cortesia

Há sinais de estabilização da pandemia do novo coronavírus em Alagoas, mas, enquanto não houver queda considerável do número de casos e óbitos, as medidas que garantem distanciamento social devem ainda ser respeitadas para evitar o chamado “efeito bumerangue”, ou seja, o aumento de notificações da doença quando a situação parecia controlada. O alerta é de especialistas que acompanham a evolução da Covid. Na avaliação da infectologista Sarah Dominique, sem respeito ao distanciamento não está descartado que Alagoas vivencie uma nova onda de infecção. Já para o pesquisador Gabriel Bádue, pode haver um retrocesso e a necessidade de se restringir novamente o contato social. “O que a gente vê é que com o término do isolamento social, as pessoas muitas vezes não estão respeitando e isso obviamente impacta sim na proliferação do vírus causador da Covid-19 e a tradução disso clinicamente é o aumento do número de casos após alguns dias que mostrava uma tendência a permanecer abaixo de 200”, destaca Sarah, que é gerente médica do Hospital da Mulher, referência no atendimento de casos do novo coronavírus em Alagoas.

AUMENTO EM SETEMBRO

Em relação ao mês de setembro, a médica Sarah Dominique diz que a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Mulher teve ocupação entre 60% e 80% dos leitos, chegando alguns dias a 85%. “Já na semi-intensiva a taxa de ocupação caiu bastante. Isso reflete sim o decréscimo de casos, mas não é garantia de que o hospital que vai ser a referência como o único no estado vai ficar com leitos vazios”, informa a infectologista. Na avaliação de Sarah, a Covid vai se tornar endêmica, isso quer dizer, “vai chegar um momento em que a gente vai ter uma quantidade de casos que dê para atender quanto à demanda ambulatorial, internações em leitos clínicos e de terapia intensiva”. Sobre interior e capital, vivem momentos diferentes. “Alguns interiores que tiveram baixo acometimento estão vulneráveis a ter surtos epidêmicos. Maribondo é um que tem casuística muito pequena e lá não eclodiu a doença, não passaram por um surto epidêmico, que é a eclosão de vários casos. Existem municípios que podem passar pelo que a capital passou de abril a julho”, acrescenta a médica. Segundo o professor Gabriel Bádue, do Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19, vinculado à Faculdade de Nutrição da Ufal, os primeiros dias de setembro acompanharam a tendência observada em boa parte de agosto, registrando uma queda na transmissão. Esse comportamento refletiu na queda do número reprodutivo efetivo (Rt), relacionado à transmissão do novo coronavírus, que atingiu seu menor valor (0,72) no dia 11/09 desde o início da pandemia, considerando todo o Estado. “No entanto, a partir desta data a transmissão voltou a aumentar refletindo no aumento do Rt que superou o limite de 1 (que indica o controle da transmissão) no dia 19/09, estando em sua última atualização (21/09) igual a 1,17, o que indica que, em média, cada dez infectados transmitem o novo coronavírus para cerca de 12 pessoas”.

DIFERENÇAS REGIONAIS

A Gazeta pergunta ao pesquisador Gabriel Bádue se o interior e a capital vivem momentos diferentes da pandemia. Ele responde que, em termos globais, se considerarmos o interior como um todo, não, mas quando a análise do interior considera divisões regionais, notam-se diferenças significativas. “Dentre as dez regiões sanitárias, a 9ª região (que engloba os municípios circunvizinhos a Santana do Ipanema) é a que apresenta a maior incidência de casos e óbitos. Comparada com a média estadual, a incidência de casos da 9ª região é o quadruplo da alagoana, enquanto a incidência de óbitos é o dobro. Por outro lado, a 2ª região, que compreende os municípios do litoral norte, vem há algumas semanas conseguindo manter o controle da transmissão, o que tem refletido na queda de casos e na ausência de óbitos”, destaca.

Gabriel Bádue confirma que, se considerando o aumento do desrespeito ao distanciamento social, pode haver um retrocesso. “É difícil identificar e imputar uma única causa para o sucesso na contenção da transmissão, mas certamente as medidas de prevenção como uso de máscara, higienização das mãos e o distanciamento social (que equivale a não formação de aglomerações), contribuíram com a queda dos indicadores no estado, observada nas semanas anteriores a 38º”, afirma.

Mais matérias desta edição