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Cidades

GOVERNO RENAN ABANDONA PRÉDIOS TOMBADOS E A PRAÇA DOS MARTÍRIOS

Ponto cultural e de turismo se transforma em área de prostituição e tráfico; museu pede socorro

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 25/09/2021

Matéria atualizada em 25/09/2021 às 04h00

Maceió, 24 de setembro de 2021
Praça dos Martírios, localizada na R. Barão de Maceió, 57020-050 - Centro, Maceió. Alagoas - Brasil.
Foto:@Ailton Cruz
Maceió, 24 de setembro de 2021 Praça dos Martírios, localizada na R. Barão de Maceió, 57020-050 - Centro, Maceió. Alagoas - Brasil. Foto:@Ailton Cruz | @Ailton Cruz

É preciso coragem e disposição para passear pela Praça dos Martírios, no centro de Maceió, um dos pontos culturais mais tradicionais e que hoje representa o desprezo aos acervos históricos do Estado. Entre prédios tombados e abandonados está o Museu Palácio Floriano Peixoto – antiga sede do governo de Alagoas. O museu guarda a história da arquitetura eclética dos séculos XVIII e XIX, da política e dos 63 governadores. O local fica a menos de 100 metros do salão de despachos frequentado diariamente pelo governador Renan Filho (MDB), no centro administrativo Zumbi dos Palmares ou Palácio de Cristal como é mais conhecido. Nem por isso há preservação daquela área. As imagens atuais do sítio dos Martírios são “terríveis”. Segundo os moradores, a região é um péssimo cartão de visita paro o turismo, que promete “bombar” a partir de outubro. No espaço urbano onde havia o comércio e martírio dos escravos no século XVIII, a degradação é total. Há sete anos, o desprezo toma conta da praça com seus prédios históricos e a sede da Secretaria de Estado da Cultura, que funciona numa das dependências do antigo palácio do governo. As pedras do piso da praça, em estilo português, foram arrancadas em vários pontos. As escadarias em frente à Igreja dos Martírios, esculturas como a do Marechal Floriano Peixoto (segundo presidente da República), banheiros públicos, tudo danificado e pichado. Prostituição, tráfico e uso de drogas acontecem toda hora. O proprietário da pequena lanchonete que havia na praça não suportou os assaltos frequentes e fechou o estabelecimento, que funcionou mais de duas décadas. Vendedores ambulantes contribuem para o aumento da sujeira. Os bancos da praça estão quebrados. Os 15 taxistas que há 30 anos fazem ponto ali descansam entre a sujeira e o cheiro de urina. “Nunca vi os Martírios desse jeito. Está tudo destruído. Qual é o turista que vem para um lugar como esse? Só maluco!”, disse um dos taxistas. A fonte luminosa que funcionava com águas dançantes está danificada. Na área em frente onde ocorriam o comércio de escravos, importantes manifestações políticas, artísticas e culturais como as solenidades de mudança da Guarda do Palácio e hasteamento das bandeiras dos 102 municípios, nenhuma lembrança do passado de glória. As bandeiras estão surradas. Algumas tremulam rasgadas. Prédios vizinhos ao palácio, onde funcionaram a Secretaria de Estado de Comunicação e a Guarda Palaciana, estão como tudo por lá: condenado. Outro imóvel do governo ao lado da antiga Secom só tem as paredes da frente, que guardam um pouco da arquitetura de estilo colonial. Os outros cômodos caíram. Situação de abandono também no imóvel seguinte – o prédio Maria Moreno – também do governo, que antes abrigava uma parte do acerto da Biblioteca do Palácio.

PALÁCIO

Depois de vencer as cenas “terríveis” de destruição e abandono da Praça dos Martírios, o acesso ao Museu Palácio Floriano Peixoto é fácil. Porém, mais decepção. A pintura da frente precisa de retoque. No portão de acesso, ninguém na segurança. Ao entrar no Palácio, o visitante se depara com o salão nobre que funciona como galeria para exposições de pinturas e esculturas. Nas salas da ala direta funcionam pequenas galerias com mobílias velhas e a recepção. Nas da ala esquerda, há os setores administrativos da Secretaria de Estado da Cultura. No térreo, mais setores administrativos. O elevador precisa de reparos e manutenção. Pela escadaria, o visitante segue no tapete vermelho, velho, surrado. No segundo andar, a mobília de estilo colonial, a maioria precisa de restauro. Existem carência na rede de iluminação e de equipamentos técnicos para os locais que guardam parte dos acervos do dicionarista alagoano Aureliano Buarque de Holanda e do escritor igualmente internacional Lêdo Ivo.

PRÓ-MEMÓRIA

A responsabilidade da preservação e manutenção de prédios e conjuntos arquitetônicos tombados é do proprietário, sustentam os técnicos do Pró-Memória, órgão da Secretaria de Cultura que cuida dos bens do Patrimônio Cultural. Coisa que nem o Estado faz. Alguns prédios tombados pela secretaria na capital fazem parte do acervo da Igreja. Em Maceió, por exemplo, todas as igrejas são tombadas pelo Patrimônio Cultural. Felizmente, alguns templos históricos estão preservados, como o de Nossa Senhor Bom Jesus dos Martírios [começou a ser construída 1833 e inaugurada em 31/10/1881], de arquitetura eclética de traços neogóticos em alto-relevo ao estilo rococó, com a fachada de azulejos português, que fica em frente ao Palácio do Governo.

O papel do Estado no processo de tombamento é de fiscalizar e zelar pelo acompanhamento de manutenção, revelou uma fonte do governo. Conforme a legislação, o proprietário do imóvel é obrigado a mantê-lo. Existe um antigo equívoco com relação à manutenção de imóvel particular tombado. Alguns proprietários acham que o poder público tem obrigação de garantir a preservação do bem reconhecido culturalmente. Entretanto, estabelece a lei 4.741/ 1985,quando o proprietário do imóvel não preserva o bem de valor histórico e cultural, é notificado para justificar a situação.

O Estado, verificando que o proprietário não zela, o pune de forma pecuniária. Quando o dono do imóvel tombado alega incapacidade financeira, se constatado a incapacidade, o Estado ajuda na preservação.

INDIGNAÇÃO

A situação da Praça dos Martírios, que abriga o museu do antigo Palácio Floriano Peixoto e o centro administrativo Zumbi dos Palmares, gerou a indignação de antigos moradores, como o escritor e ambientalista Alder Flores. Ele morou 40 anos em frente à praça. A casa dele hoje abriga um estacionamento. “Aqui aconteceram diversos shows musicais, as festas juninas, o pastoril de fim de ano, as manifestações políticas, tinha a beleza da fonte luminosa. Passei a infância e a juventude nesta praça. Hoje, isto aqui é uma vergonha para um estado que quer desenvolver o turismo. A imagem é triste”, lamentou Flores, ao cobrar a preservação do local. A praça é tombada [Decreto nº 33.127 de 31/08/1988] e o decreto que reconheceu a importância daquele sítio histórico estabelece que seu entorno teria de ser preservado.

PREFEITURA

Diante da inércia do governo estadual, a prefeitura de Maceió está determinada a recuperar a Praça dos Martírios. Em entrevista ao programa Ministério do Povo, da rádio Gazeta, no dia 22, o secretário municipal adjunto de Planejamento, Tasso Rodrigues, confirmou a intenção de resgatar a praça. “Estamos na fase de estudos e levantamento sobre a situação do local”. Antes de qualquer tipo de intervenção na área da “esplanada do governo estadual”, os técnicos da prefeitura querem se reunir com os colegas do Estado para saber por que a Praça dos Martírios chegou àquela situação. Para incentivar a revitalização e a requalificação, a Fundação Municipal de Ação Cultural está se transferindo para a praça. Alguns departamentos da FMAC já funcionam no prédio antigo recém-restaurado da “Intendência Municipal” – antiga sede da prefeitura. Além da Praça dos Martírios, a prefeitura emitiu ordem de serviço para recuperação da Praça Lions, no bairro de Jaraguá, a continuação da revitalização da Praça Sinimbu, no Centro, com a recuperação do painel histórico e com resgate da escultura do “menino mijão”; o Parque das Crianças do Benedito Bentes. A recuperação dos Mirantes do Jacintinho, Bebedouro com a instalação de um Memorial em homenagem às vítimas do afundamento do bairro Pinheiro e logradouros vizinhos. No centro comercial tradicional da cidade também haverá a requalificação com uma grande reforma geral de pisos, galerias, espaços de convivência entre outras ações que começam em outubro, informou Tasso Rodrigues.

/Maceió, 24 de setembro de 2021
Praça dos Martírios, localizada na R. Barão de Maceió, 57020-050 - Centro, Maceió. Alagoas - Brasil.
Foto:@Ailton Cruz
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