Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 5691
Cidades

DOAÇÃO AUMENTA, MAS MORTE ENCEFÁLICA AINDA É SUBNOTIFICADA

Manifestação expressa e sensibilidade de familiares para validar essa decisão são fundamentais para a retirada de órgãos para transplante

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 21/05/2022

Matéria atualizada em 21/05/2022 às 04h00

| elen oliveira

Doar um órgão é a certeza de que a vida continua em outra pessoa. Graças ao avanço da ciência, aliado às técnicas cirúrgicas e à evolução dos medicamentos, a sobrevida para pessoas transplantadas é de quase 100%. Isso, porém, só ocorre quando o doador, ainda em vida, manifesta o desejo de exercer esse ato de solidariedade. E mais: que sua família atenda a esse pedido e seja corretamente esclarecida sobre como e em que circunstâncias um órgão poderá ser retirado do corpo do seu ente querido. Esse é o trabalho realizado por uma equipe multidisciplinar que integra a Central de Transplantes de Alagoas.

Graças a eles e às várias campanhas já realizadas, os números indicam aumento das doações. Porém, a fila de espera de quem precisa do sim das famílias cresce a cada dia. Aliado a isso, outro complicador. Nem todas as unidades de saúde cumprem a Lei 9.175, que obriga a comunicação de suspeita de morte encefálica à Central de Transplantes. Se isso ocorresse, a possibilidade da doação múltipla de órgãos aumentaria sensivelmente, e ao mesmo tempo, diminuiria a espera de quem vive no aguardo de uma ligação do hospital.

Em abril, conforme revelou a coordenadora da Central de Transplantes, Daniela Ramos, existiam 380 pessoas aguardando uma córnea para voltar a enxergar; 67 estavam à espera de um rim; 6, de um fígado e 3 estavam na fila do coração.

“O apelo que nós fazemos é que as pessoas tirem suas dúvidas. Esclareçam, pois ainda existem muitos tabus. Existem muitos mitos. E o que precisa ser dito é que é um processo muito claro, regulado por meio da Resolução 2.173 do Conselho Federal de Medicina. O diagnóstico de morte encefálica só pode ser dado por profissionais capacitados”, destacou Daniela.

Seu empenho se soma ao uma outra dezena de pessoas que são abnegadas, que ao contrário do que se imagina, não trabalham ou atuam pela morte. Pelo contrário, o esforço diário é pela vida de quem receberá o órgão e, principalmente, pela continuidade do doador. “Sensibilizem-se pela causa. Sei que um dia iremos partir. Ninguém quer morrer. mas é algo de que temos certeza. Um dia, todos nós teremos nossa vez. Então, se um dia tivermos que ir e deixarmos um pedacinho nosso salvando outra vida, por que não?”, provoca Daniela.

O esforço é para que o tema seja tratado com naturalidade, porque o mais complexo, que era a formação dos profissionais que irão implantar um órgão, já aconteceu. Hoje, em Alagoas e em todo o País, há especialistas com capacidade reconhecida e que também são doadores de órgãos para que outra vida continue. “Por isso, doem órgãos e salvem muitas vidas”, apela a coordenadora.


25 ALAGOANOS RECEBERAM NOVOS ÓRGÃOS ESTE ANO

Com a melhoria no quadro da pandemia de Covid-19, os dados estão mais animadores no Estado. Os levantamentos da central indicam que este ano já foram realizados 25 transplantes em alagoanos. Proporcionalmente, já é um avanço em relação aos 65 que foram realizados durante todo o ano de 2021.

Fazendo um panorama detalhado e por tipo, no ano passado 62 pessoas voltaram a enxergar e três receberam um novo fígado. E este ano, outras 20 recuperaram a visão, outras três receberam um novo fígado e duas pelo menos um rim, o que já é suficiente para se livrar da máquina de hemodiálise.

"Nós estamos vindo este ano de uma tendência crescente de doações. As famílias já estão sendo mais sensíveis à causa. Nossa equipe tem feito um trabalho incansável para conseguirmos aprimorar e acolhermos os familiares. Já tivemos só este mês de maio, dez doações autorizadas", disse Daniela.

Sobre as resistências, a coordenadora diz que só serão quebradas com diálogo. Ao passo que os familiares têm o direito de saber o diagnóstico de morte encefálica, os hospitais têm o dever de comunicá-la. E a partir daí, a família pode ter, também, o direito de decidir.

O diálogo franco entre as pessoas sobre a doação de órgãos pode ser determinante. Conversar com naturalidade com amigos, mas principalmente, com os familiares, além dos ambientes das empresas, pode ajudar a quebrar os últimos limites para que a decisão final de doação seja tomada.

Informar-se sobre o processo de diagnóstico é fundamental. Nenhum corpo terá retirado um ou mais órgãos, além da própria pele, se não houver a confirmação científica de que já há morte cerebral. Todos os profissionais envolvidos neste processo são especializados e agem com ética, assim como os que abordam as famílias em seu momento de maior fragilidade.


Mais matérias desta edição