Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 5692
Justiça

MAYARA ALVES: ‘NÃO CONSEGUI RESTABELECER MINHA VIDA’

Após dois anos, alagoana presa injustamente aguarda revisão criminal para retomar a vida

Por Mariane Rodrigues | Edição do dia 06/08/2022

Matéria atualizada em 06/08/2022 às 04h00

A alagoana Mayara Alves foi condenada por latrocínio por ter o nome igual ao da verdadeira acusada do crime
A alagoana Mayara Alves foi condenada por latrocínio por ter o nome igual ao da verdadeira acusada do crime | Arquivo pessoal

“Não consegui restabelecer a minha vida, pois não tive apoio das autoridades e tampouco dos governantes do estado”. A fala é de Mayara Alves, alagoana que foi condenada a 24 anos de prisão por um latrocínio que não cometeu. A ex- estudante de direito ficou presa por mais de um ano, até que teve a inocência comprovada de dentro da prisão. Hoje, o caso dela, que repercutiu em todo o país, está em processo de revisão criminal e ela luta para ser indenizada pelo estado para poder retomar a vida. Por causa da prisão, Mayara Alves, 29 anos, teve que abandonar a faculdade de direito, passou mais de um ano longe dos filhos e da mãe e ainda teve seus pertences furtados de dentro de sua residência enquanto esteve presa, período em que também perdeu a mãe. Segundo ela, ao sair do presídio feminino Santa Luzia, teve que recomeçar a vida do zero. O alvará de soltura foi dado no dia 04 de agosto, no dia em que Mayara completa ano. “Há dois anos, eu recebia minha liberdade. Imaginava um recomeço, mas até hoje, pouca coisa mudou. É uma situação muito difícil quando se é sozinha. As pessoas simplesmente querem apagar o erro que foi cometido judicialmente e seguirem suas vidas, enquanto a minha está aqui, cada dia pior, sem nenhuma perspectiva. Nunca tive apoio psicológico, nem financeiro”, desabafa. Mayara foi condenada por latrocínio por ter o nome igual ao da verdadeira acusada do crime. Os erros das investigações vão desde a confusão dos nomes, até as contradições das próprias intimações referentes ao endereço dela. Mayara não sabia que estava sendo investigada e ainda foi condenada por edital, sem ter chance de se defender adequadamente diante do júri ou na fase processual. Após comprovar a inocência, a verdadeira Mayara foi presa, confessou o crime e foi condenada. Assim que saiu da prisão, a defesa de Mayara Alves entrou com ação no Tribunal de Justiça para pedir a revisão criminal do caso, o que foi acatado. Agora ela espera que o julgamento ocorra o mais rápido possível, para que a pena seja retirada do seu histórico de antecedentes. De acordo com o Tribunal de Justiça, “o processo está em análise para ser incluído em pauta em breve”. A Revisão Criminal é uma ação judicial utilizada quando o processo já está em trânsito julgado, ou seja, não cabe mais possibilidade de recursos ao réu. De acordo com o Código de Processo Penal, esse mecanismo é utilizado quando as provas se comprovarem falsas, quando forem descobertas novas provas de inocência do condenado, ou ainda quando a sentença não estiver de acordo com dispositivos da Legislação Penal. De acordo com o Tribunal de Justiça de Alagoas, ao menos 15 processos de revisão criminal tramitam no órgão atualmente, mas esse número pode ainda ser maior. “Mayara estava pagando por uma condenação, mesmo sendo inocente”, aponta a advogada Fernanda Noronha, que entrou com ação de revisão criminal. “Foi um grande desafio, pois já haviam passados mais de 1 ano e 4 meses de prisão, e para piorar, sem qualquer possibilidade de recurso, pois o processo, estava em ponto de ser arquivado”. Além disso, a advogada também realizou pedido de reparação estatal. “Realizamos pedido de reparação por meio de indenização. Esperando ser arbitrado um valor não inferior a R$750.000,00, tendo em vista o tempo de prisão, desestruturação familiar, pois seus 3 filhos ficaram desassistidos, bem como, por todas as oportunidades que foram perdidas, faculdade, trabalho e convívio em sociedade”, expõe Noronha.


Mais matérias desta edição