A história de Ana Carolina Vieira, de 42 anos, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), é um retrato de resistência e superação diante da neuralgia do trigêmeo. Essa doença, conhecida por ocasionar uma das dores mais intensas que um ser humano pode experimentar - a maior dor do mundo -, tem afetado criativamente o seu cotidiano.
A trajetória da alagoana é semelhante a da mineira Carolina Arruda, que também enfrenta a doença e, após esgotar todas as opções médicas no Brasil, decidiu buscar a eutanásia na Suíça. Recentemente, ela foi internada em uma clínica especializada para tratamento da dor, atendida pelo SUS, e disse que pode reconsiderar fazer o procedimento caso o tratamento seja eficaz.
O diagnóstico da alagoana demorou para ser fechado. “Sempre senti dores de cabeça, do lado direito, principalmente em locais frios ou após ingerir bebidas alcoólicas, mas nunca tinha sido associado a este diagnóstico. Procurei assistência médica várias vezes e fiz vários exames. Um médico chegou a me encaminhar para assistência psicológica, pois afirmou que as dores eram ‘criação da minha cabeça’”.
Após consultar um neurologista e um bucomaxilofacial, o diagnóstico foi confirmado.Ela conta que as crises afetam intensamente a rotina dela, muitas vezes impedindo-a de trabalhar, dirigir ou até mesmo dormir. “Eu fiquei extremamente irritada e, sinceramente, já tive crises de ter vontade de morrer, porque é uma dor insuportável,” revela.
A professora diz que aprendeu a lidar com a dor e também faz uso de uma variedade de medicamentos. “Há um formigamento e, dependendo das minhas atividades diárias ou da minha alimentação, ele aumenta ou não o nível de dor. Quando isso se transforma em ‘choques’ e o nível de dor aumenta, sei que é preciso usar os medicamentos para controlar e não piorar. Existe uma ‘escala’ de medicamentos que uso, do mais fraco ao mais forte, a depender da dor. Todos prescritos por profissionais na área”, conta.
Além do uso dos remédios prescritos pelos médicos, a professora pratica atividades físicas regularmente, como triatlo, que considera essencial para o manejo das crises. “Os medicamentos são eficazes no controle da dor, mas eu não gosto de me sentir sonolenta e limitada por eles. Sou uma pessoa hiperativa e gosto de movimento. Os medicamentos me deixam sem dor, porém lenta. O médico falou que praticar atividade física seria importante para controlar a dor crônica e hoje o triathlon faz parte da minha rotina. O esporte, no meu caso, tem o efeito tão potente quanto os remédios”, afirma.
Para ela, algumas atividades do cotidiano, da vida de casal ou entre amigos, precisariam ser deixadas de lado. “Evito ambientes frios sem estar agasalhada, não abuso do álcool e pratico atividades físicas. Além disso, mantenho uma alimentação equilibrada. Às vezes, tomo um vinho, uma cerveja, sabendo que depois, provavelmente, terei uma crise. Então, hoje esses momentos com a presença de álcool se tornaram mais raros”.
A médica neurologista Giselle Theotonio, especialista em cefaleias, explica que a neuralgia do trigêmeo é uma condição neurológica que causa dor facial intensa e súbita. “A principal causa é a compressão vascular, onde um vaso sanguíneo pressiona o nervo trigêmeo. Outras causas podem incluir esclerose múltipla, um tumor ou traumatismo craniano”, explica.
O diagnóstico é essencialmente clínico, e exames de imagem, como a ressonância magnética, podem ser solicitados para identificar causas subjacentes. “Os sintomas típicos incluem dor muito forte e aguda, semelhante a um choque elétrico, que pode ser desencadeada por atividades simples, como escovar os dentes ou falar”, explica.