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Maceió,
Nº 5693
Salgado

INFLAÇÃO AFETA PREÇO DE PETISCOS EM BARES E RESTAURANTES DE MACEIÓ

Abrasel confirma que os brasileiros estão sentindo pesar cada vez mais no bolso o aumento dos preços

Por Nealdo | Edição do dia 20/01/2022

Matéria atualizada em 20/01/2022 às 04h00

Petiscar nos bares de Maceió está mais salgado, e não tem nada a ver com o sabor, e sim com os preços. A alta da inflação afetou o cardápios de bares e botecos da capital alagoana, que findaram tendo que repassar o aumento para os consumidores, que agora nem podem mais dizer que vão beber para esquecer os problemas, afinal, beber agora lembra da escalada de preços. Pedro Oscar é empresário e costuma frequentar bares e botecos da capital. Ele conta que dá para sentir o aumento em todos os petiscos, mas o preço do caldinho, que para ele é a pedida certa, ficou pesado. “Tem sido difícil driblar os preços. Todos os bares aumentaram significativamente os valores do cardápio. Ficou comum também agora a cobrança de entrada no bar. Então pra fugir do preço não tem muito o que fazer, mas uma alternativa que eu tenho usado é ir em espetinhos em praças”, relata. Ele diz ainda que a cerveja é o que está mais caro atualmente. “Não compensa mais consumir a cerveja, a cervejinha, agora é pra tomar em casa. Quando você vai num bar legal com os amigos tá sendo mais interessante consumir algum destilado e dividir por todos”, conta. O jornalista Flávio Maia conta que também sentiu o aumento, que, de acordo com ele, aconteceu, principalmente, nas carnes. “Mesmo frequentando ambientes alternativos é perceptível que há um aumento. Geralmente eu me alimento bem em casa mesmo ou em um local menos caros”, pontua. Maia diz que pela diversidade de cervejas ainda é possível beber por um preço baixo. “Porém há quem prefira uma cerveja de boa qualidade e isso reflete também num gasto maior, outras bebidas como drinques e gin acabam sendo mais caras”, avalia. O Bruno Oliveira é dono de um bar em Maceió e diz que a alta de preços afetou bastante os valores do cardápio. “A alta dos insumos precisou ser repassada para os valores do nosso cardápio, tivemos que alterar os valores, mas não mudamos porções, optamos pelo aumento compatível com os insumos”, explica. Mesmo com as altas, ele diz que o consumo continua normal, mesmo com o aumento de valores, inclusive, das cervejarias. Ele conta que o consumo de cerveja em dezembro foi altíssimo, mas em janeiro já houve uma diminuição tanto de público, quanto de consumo. Kelsey Oliveira também é dono de bar e relata que no caso dele, especificamente, foi sentido bastante o aumento no preço da carne, óleo e cervejas. “Reajustamos o valor dos produtos no cardápio, diminuímos a margem de lucro em alguns e criamos novos petiscos”, explica. Sobre o consumo de cerveja ele diz que está muito bom, e que o consumo em dezembro foi 37% maior, quando comparado com novembro. “O público aumentou, porém o consumo continua na mesma média”, relata. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) confirma que os brasileiros estão sentindo pesar cada vez mais no bolso o aumento dos preços. A Abrasel pondera que para o setor de bares e restaurantes, um dos mais prejudicados pela pandemia, os custos não param de subir. “Neste mesmo período, os combustíveis (52,77%), a energia elétrica (32,99%) e os alimentos e bebidas (8,9%) ajudaram a pressionar esses estabelecimentos, que tiveram que absorver parte desse aumento, sem repassar integralmente para os clientes. Já o aluguel, medido pelo IGP-M, chegou a bater 35,75% de aumento acumulado em junho deste ano. Outro caminho foi apostar no aumento da produtividade, que ajudou a segurar os preços do cardápio”, diz a associação. Para o presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, a lição aprendida na pandemia ajudou os estabelecimentos a cortarem custos nesse momento. “Parte relevante dos bares e restaurantes teve ganho de produtividade ligado à revisão dos processos, automação, digitalização dos clientes. Foram obrigados a rever os custos pela sobrevivência dos negócios. Uma das consequências mais visíveis é que onde antes trabalhavam dez funcionários, hoje trabalham oito”. Segundo Solmucci, isso possibilitou que, mesmo diante da inflação de dois dígitos, os aumentos no cardápio fossem adiados ou minimizados. Outro fator destacado pela Abrasel é que enquanto a inflação geral acumulada nos últimos 12 meses chegou a 10,74%, o IPCA da alimentação fora de casa ficou em 6,13%. “A alimentação está dando uma contribuição importante para frear o aumento ainda maior da inflação geral, em especial o setor de alimentação fora do lar, com o aumento da produtividade e a absorção de parte dessas altas de aluguel, combustível, energia elétrica e alimentos em geral”, ressaltou Solmucci. Mas há ainda uma parcela significativa deste setor operando no prejuízo (35%), segundo pesquisa divulgada esse mês pela Abrasel. “Foram bares e restaurantes que não conseguiram passar os reajustes de custo para o cardápio e seguem operando no vermelho”, finalizou.

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