Maceió,
Nº 5698
Arrumando a casa

MIRIAN MONTE E A DURA MISSÃO DE POR O CSA DE VOLTA À SÉRIE B

Presidente quebra barreiras do preconceito e promete cumprir, à risca, o lema do clube: ‘União e Força’

Por Fernanda Medeiros | Edição do dia 20/04/2024

Matéria atualizada em 20/04/2024 às 04h00

Mirian da Silveira Monte, 44 anos, é servidora do Judiciário Federal, é formada em Direito pela UFAL e já foi delegada da Polícia Civil na Paraíba
Mirian da Silveira Monte, 44 anos, é servidora do Judiciário Federal, é formada em Direito pela UFAL e já foi delegada da Polícia Civil na Paraíba | Augusto Oliveira/CSA

Em meio a um ambiente predominantemente masculino e machista, ela surgiu para quebrar as barreiras que ainda persistem no futebol. E mais: tem o desafio de recolocar o clube que comanda de volta à Série B do Brasileiro e, quem sabe, na Série A. Não se trata aqui de nenhuma jogadora, como a já famosa alagoana Marta, por exemplo, mas, sim, de uma mulher que decidiu encarar a missão de comandar o CSA. E esta corajosa é Mirian Monte, presidente executiva do Azulão, a única que está no comando de um clube de futebol em Alagoas.

Ao ser questionada sobre como é ocupar esta árdua função, ela afirmou que se sente como alguém que tem um grande tesouro para proteger. “O CSA faz parte da identidade do povo alagoano. Eu só enxergo pelos olhos da responsabilidade e do amor. Evidentemente, é um desafio, até porque o clube tem passado por grandes turbulências e, nos últimos anos, não consegue ter resultados esportivos que agradem o torcedor”, disse à Gazeta de Alagoas.

E prosseguiu: “No entanto, conquistamos um título importante, da Copa Alagoas, e um acesso à Copa do Brasil, garantindo recursos e calendário para 2025. Assim, o primeiro grande desafio foi alcançado. Teremos uma sequência de outros desafios. Esta é a dinâmica do futebol e isso não me assusta”.

O Azulão está na Série C este ano e, justamente sobre a missão de colocá-lo de volta à Série B, ela disse que o objetivo é fazer um time competitivo e que o trabalho será árduo. “Nossa intenção será montar um time competitivo, engajado, que busque o acesso, acima de tudo. Mas sabemos que será uma missão muito árdua e teremos que ter muita resiliência, superando cada etapa. Vamos trabalhar duro para isso”.

Segunda mulher a assumir a presidência de um clube de futebol no Estado, Mirian da Silveira Monte, 44 anos, é servidora do Judiciário Federal. Também formada em Direito pela UFAL, ela já foi delegada de Polícia Civil na Paraíba, além de já ter sido secretária de Cultura de Maceió, na gestão do atual prefeito, JHC.

A primeira a assumir os destinos de uma equipe alagoana foi Juniely Batista, em 2008, quando presidiu o Sete de Setembro, que tinha sido presidido por João Batista, seu pai, já falecido.

Mirian Monte está comandando o CSA, após a renúncia do então presidente Rafael Tenório, em 14 de março deste ano. Aceitou o desafio de presidir o Azulão, quando muitos pensavam que iria “pular fora”. Seu mandato vai até fevereiro de 2027. Ela tinha sido convidada a compor a chapa como vice-presidente do Conselho Deliberativo, quando da eleição do então presidente Omar Coelho (já falecido). Nessa chapa, o presidente do Conselho era Rafael Tenório.

Diante da possibilidade de o clube passar por uma eleição no meio da Série C, com toda a disputa política envolvida num pleito eleitoral, ela decidiu tentar salvar o CSA, levando grandes azulinos a uma gestão compartilhada e democrática.

OUTRAS PRESIDENTES

No Brasil, algumas mulheres já assumiram a presidência de clubes. Exemplos de Jurema Bagatini Ramos, primeira mulher a presidir um clube do futebol brasileiro (na década de 1970 ela comandou o Esporte Clube Encantado, da cidade Encantado-RS); Marlene Matheus, esposa do ex-presidente do Corinthians Vicente Matheus, que presidiu o Timão de 1991 a 1993; a ex-nadadora Patrícia Amorim (Flamengo - entre 2010 e 2012); Myrian Fortuna (Tupi - de 2013 a 2019); Luiza Estevão (Brasiliense), Maria Isabel Pimenta (URT de Patos de Minas) e Rita de Cássia (Bangu). E mais: a atual mandatária do Palmeiras, Leila Pereira, que assumiu o Verdão em 2021; e Graciete Maués, que está na Tuna Luso-PA. Atualmente, só Mírian, Leila e Graciete Maués seguem em ação em seus respectivos clubes.

“Elas me inspiram muito. A Leila tem sido uma referência, no futebol, para homens e mulheres, e isso é fantástico! Como é bom ver uma mulher desconstruindo paradigmas, preconceitos e vencendo, deixando sua marca no mundo. Eu, particularmente, sempre me inspirei em mulheres”, afirmou Mirian Monte.

FAMÍLIA

Ao ser perguntada se tem o apoio da família em relação ao CSA, Mirian respondeu: “Desde muito nova sou submetida à pressão e acredito que me acostumei de maneira tal que, quando as coisas estão muito paradas, eu me entristeço. Gosto do desafio e minha família já desistiu de me fazer mudar de ideia. Então, recebo o seu apoio”.

A mandatária azulina tem uma filha, Maria Thereza. de 16 anos, também torcedora do Azulão. “Ela já saiu da maternidade com a roupinha do CSA. Meu marido é baiano, mas uma condição sine qua non para viver em paz comigo é torcer pelo CSA”, revelou.

Mirian explicou também como o futebol começou na vida dela. “Meu avô Benício Monte foi presidente do CSA na década de 1950. Na sua gestão, ele construiu as arquibancadas de concreto e pôs refletores, tendo promovido a primeira partida noturna do Nordeste no Mutange. Cresci ouvindo essas histórias pelo meu pai, Guilherme Monte, que sempre participou, de alguma maneira, do clube: foi conselheiro, presidente do Conselho Fiscal, dentre outras funções”.

Quanto ao preconceito por ser mulher em um ambiente masculino, ela afirmou: “Vão dizer que é ‘mimimi’, mas a verdade é que, o fato de eu ser mulher, exige de mim o dobro do cuidado e da atenção, para ocupar certos espaços, sobretudo os predominantemente masculinos. Precisamos estar sempre provando nossas capacidades. Mas encaro isso com naturalidade e, hoje, sinto alegria em poder abrir, por dentro, a porta para outras mulheres, em muitos espaços que já ocupei: polícia, política, judiciário, cultura, futebol”.

Por se tratar do CSA, Mirian revelou que se sente honrada em estar no comando, tendo como vice-presidente Max Mendes, e falou também como é a convivência dela por lá. “Eu me sinto honrada. Mas, mais do que honrada, me sinto abençoada, por poder, nesta vida, sentir emoções profundas e intensas e poder dar minha contribuição a um clube centenário, que faz parte da vida de milhares de alagoanos, que une gerações em torno de uma paixão”, garantiu.

“Já sobre a minha convivência no clube, digo que é muito boa em relação aos colaboradores, atletas, comissão técnica, de um modo geral. Desde o começo tenho muita facilidade em me comunicar com todos. É uma relação que só se aprofunda com o passar do tempo. É muito tranquila. Consigo estabelecer diálogos claros, francos, empáticos. Criar um ambiente familiar é algo que busco fazer em qualquer lugar onde estiver”, afirmou.

A situação do CSA ainda é caótica, pois vai mal das pernas, com críticas e cobranças da torcida. Porém, está se reerguendo e Mirian crê em superação. “Desde 2022, venho participando da vida do clube, conhecendo pessoas importantes no meio do futebol, como diretores executivos, treinadores, dirigentes de outros clubes e também conheço o potencial do CSA, para buscar recursos e apoios. O clube tem uma camisa pesada, capacidade de atrair bons patrocinadores, negócios, recursos públicos e ser autossuficiente. Além do mais, temos a maior torcida do Estado”.

E, por falar em torcida, ela mandou uma mensagem para os azulinos: “Não será fácil, mas teremos resiliência, responsabilidade, trabalharemos duro, suaremos a camisa. Espero que o torcedor entenda que o maior reforço que o clube pode ter é, justamente, o torcedor. Portanto, vá ao estádio. Precisamos de estádios cheios, de cada um vestindo a camisa e colocando em prática o lema ‘União e Força’. Só assim conseguiremos alcançar nossos objetivos”, encerrou.

/Mirian da Silveira Monte, 44 anos, é servidora do Judiciário Federal, é formada em Direito pela UFAL e já foi delegada da Polícia Civil na Paraíba
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/Mirian Monte assumiu os destinos do CSA, após renúncia de Rafael Tenório
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/Mirian revelou que se sente honrada em comandar o CSA:

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