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O AMOR TAMBÉM ESTÁ NO AR

Mesmo diante do caos, casais que se formaram durante a pandemia relatam fé no amor e revelam táticas para manter os relacionamentos

Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 12/06/2021

Matéria atualizada em 12/06/2021 às 04h00

A pandemia de Covid-19 e o consequente distanciamento social acabaram por estreitar os laços e fortalecer algumas relações. Neste fim de semana em que é comemorado o Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho, casais que se formaram durante a crise sanitária expõem a importância dos relacionamentos e, ainda, do amor - apontado por alguns deles como a cura para os problemas do mundo.

Quem viveu ou está vivendo uma paixão neste momento, sabe que nem tudo são flores. Um relacionamento precisa de manutenção, de encontro, de apoio, de demonstrações de afeto, mas também de segurança, transparência e, nesse caso, de muita criatividade.

A distância não foi um problema para a união de Débora Rodrigues, 21, e Thiago Luiz, 22. Os universitários já se conheciam antes da pandemia, mas foi há 10 meses que eles atualizaram o status de relacionamento, bem em meio ao caos e às incertezas que persistem atualmente.

“A pandemia se tornou mais um desafio para manter o relacionamento, sim. Começar um relacionamento pela tela do celular já é um pouco diferente. Começamos a conversar, primeiro nos tornamos amigos, e depois a gente se conheceu mesmo, durante a pandemia, e tudo pelo celular”, conta Débora.

Ela e a família enfrentaram a Covid-19 e venceram. O fato trouxe ainda mais insegurança na hora de o casal decidir se encontrar. De acordo com Débora Rodrigues, isso já era complicado, já que ela mora em Rio Largo e o namorado - agora noivo - em Maceió.

“Foi muito difícil, principalmente no começo. Então, além do fator pandemia, tinha essa distância. Mas a gente não queria se expor, nem expor ninguém. Para chegar aqui, ele pegava um Uber, justamente para não se arriscar ainda mais em um transporte público”, diz.

UM PASSO DE CADA VEZ?

Na história de Débora e Thiago, a percepção de “tempo certo” mudou depois da pandemia. A universitária diz que a sensação de “viver o agora” e aproveitar a paixão motivou o casal a dar alguns passos à frente.

“Ficamos noivos! Foi uma forma de driblar as incertezas. A pandemia acabou nos fazendo segurar um no outro. A gente tá vendo muita coisa ruim por aí, muita coisa ruim aconteceu na minha própria família, mas a gente quis pensar no futuro mesmo assim. Precisamos viver o agora, viver o que a gente tem vontade de fazer”, conta Débora, acrescentando que a decisão de noivar também foi uma maneira de aproximá-los.

“Ele fica aqui em casa. Ficamos noivos com pouco tempo de relacionamento, mas foi tudo muito intenso. Estamos vivendo dias intensos. Acho que a pandemia intensificou essas relações, como tínhamos que ficar muito longe, a gente só queria ficar muito perto”, diz.

Já o romance de Pedro Peixoto e Dulce é uma história de carnaval. Eles se conheceram na última festa de momo antes da pandemia, em 2020, e começaram a conversar. Uma prima de Pedro foi a responsável por apresentar Dulce ao rapaz de 23 anos.

"Passamos o início da pandemia todo sem praticamente nem lembrar da existência um do outro. Até que, por um imprevisto, um amigo meu fala sobre ela e pergunta se eu a conhecia. Daí voltamos a nos falar e fomos nos conhecendo melhor”, conta Pedro.

“Daí, quando deu a primeira ‘volta’ da pandemia, que foi em outubro de 2020, liberaram barzinhos e tudo mais, então fui comemorar com minha família e minha prima a chamou, daí em diante, estamos juntos”, continua.

O jovem, que trabalha como atendente em uma farmácia, diz que o desafio da distância se tornou maior agora, depois de vários meses desde o início da pandemia.

"Estou trabalhando em farmácia longe da casa dela e o relacionamento se mantém mais por WhatsApp mesmo. E eu tiro, pelo menos, um dia pra gente se encontrar na casa dela e, assim, poder aproveitar o namoro da gente”, relata o rapaz, que diz que o mais desafiador é manter a mente “em paz”.

“Acho que o mais difícil de superar foi a cabeça da gente. Estávamos voltando a um ‘lockdown’, já tínhamos passado quatro meses em casa, estressados, preocupados e tudo mais, então a gente teve muito medo da cabeça da gente ‘explodir’ por conta de tanta coisa acumulada”, diz.

“Rapaz, se disser que houve tática mesmo para manter o relacionamento, estarei mentindo. O que houve foi a gente aproveitar o que tinha. E o que tinha era só a gente. Filme, comida, conversas, tudo foi sendo aproveitado ao máximo, como se a gente estivesse fazendo pela última vez”, finaliza Pedro.

Arthur Araújo, 28, começou seu relacionamento em fevereiro deste ano. Ele já conhecia o namorado pela internet, eles já haviam trocado mensagens no ano passado. A história de amor, assim como a de Débora e Thiago e de Pedro e Dulce, foi intensa e, de acordo com ele, o que mais importava era viver aquela paixão.

“No começo, a gente tinha em mente que só nos veríamos quando as coisas estivessem melhores, quando a pandemia desse uma acalmada  ou quando estivéssemos vacinados. Mas a paixão nos venceu”, relata.

“Nos encontramos pouco e esse é o maior desafio: a saudade. Sinto muita falta dele todos os dias. E isso é muito complicado de lidar”, diz o rapaz.

A solução para o casal foi aproveitar as oportunidades de se conectar pela internet. Além de videochamadas, eles se esforçam para que tenham, pelo menos, algumas horas “juntos” no dia.

“Assistimos vídeos e filmes pelo Discord, jogamos jogos eletrônicos juntos. Tentamos fazer várias coisas juntos, como se estivéssemos realmente perto um do outro. Acho que encontrar amor em meio a esse caos, é sim um motivo para celebrar e viver com intensidade”, diz Arthur.


VOCÊ ACREDITA NO AMOR?

Foto: Cortesia
 

Foi o amor que nos manteve fortes. O elo se intensificou, passamos mais tempo juntos. O amor salva também. Todo mundo ficou um pouco doente, mentalmente, por causa da pandemia. Então, o amor veio agregar na minha vida, me descobri uma nova pessoa, o Thiago também. Ele me incentivou a fazer muitas coisas que eu achava que nem poderia fazer, inclusive passar, sã, por essa pandemia.

Débora Rodrigues, 21 anos



Sim, eu acredito com força. Não diria que é a resposta pra tudo, mas é algo que auxilia em todos os aspectos. E assim, temos que falar pra poder mostrar que ainda temos saída, sabe?  Não dá pra ter raiva do governo e dessa pandemia a todo momento, apesar de ser bem difícil com os dois não ajudando, mas temos que ter um momento pra liberar essa raiva e mostrar que só sentir raiva não é a solução, voltar a focar, também, nas pessoas que amamos e podemos passar a amar.

Pedro Peixoto, 23 anos


Eu sempre acreditei no amor. E isso sempre foi muito mais complexo para nós que somos gays. Mas há amor no mundo. Se eu encontrar o meu amor durante essa pandemia, sei que quem está lendo também pode encontrar. Acredite, lá fora tem alguém querendo te amar e te aceitar como você é. Eu acredito que não podemos perder tempo, a gente só acha que controla as coisas, mas tudo pode acontecer a todo instante, inclusive outra pandemia, que Deus nos livre.

Encontrar meu namorado me salvou de muitas formas, me deu mais perspectiva, me fez ver a vida com mais entusiasmo e me fez sentir que esses dias, apesar de duros, vão passar. Quero até aproveitar para dizer pra ele: eu te amo e vou estar aqui quando a gente puder se encontrar. E pra sempre!

Arthur Araújo, 28 anos.

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