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Maré

FUGINDO DO ÓDIO

Os perigos do ódio online para o desenvolvimento infantojuvenil e o que os pais podem fazer

Por DA EDITORIA DA REVISTA MARÉ | Edição do dia 07/08/2021

Matéria atualizada em 07/08/2021 às 04h00

A tecnologia fez a comunicação entre indivíduos se tornar cada vez mais fácil, mas o que deveria ser algo benéfico tem se transformado em um ambiente caótico e doente. A internet anda tóxica e, nas redes sociais, parte dos usuários está sempre pronta para julgamentos. Não é difícil achar comentários trazendo à tona o lichamento virtual, tentativas de cancelamento e ódio gratuito online. Uma pesquisa realizada pela Intel Security expôs que 66% dos adolescentes relatam já ter presenciado ou sofrido “hate” na internet em algum momento. Em sua maioria, esses ataques acontecem entre crianças e adolescentes, que são um grande público na web. Podem ocorrer como xingamentos sobre a aparência, o estilo, o jeito de falar, a condição social, a orientação sexual, tudo virou alvo dessas pessoas, que esquecem que por trás de cada tela, há alguém com uma vida, com sentimentos. HOMOFOBIA E ÓDIO ONLINE O problema não se restringe somente a figuras anônimas. Celebridades, artistas e políticos também estão na mira desses ataques. Recentemente, um caso comoveu o país. O filho da cantora Walkyria Santos, ex - Magníficos, vinha sofrendo ataques nas redes sociais e, segundo portais, os comentários maldosos traziam ofensas e questionavam a sexualidade do rapaz. A pressão foi tão grande que Lucas Santos, de apenas 16 anos, desistiu da própria vida, vindo a óbito na ausência dos pais. Diante de um contexto conturbado, em que sobram dúvidas, a Revista Maré traz a psicóloga Raíssa Cavalcante, especialista em desenvolvimento infanto-juvenil, para que pais e mães possam entender como identificar nos filhos situações prejudiciais para a saúde mental e como lidar com haters. Revista Maré. Como identificar quando uma criança está sofrendo abusos psicológicos na infância - adolescência? Raíssa Cavalcante. A mudança de comportamentos é um dos principais sinais que as crianças demonstram quando estão sofrendo abuso psicológico. Alguns exemplos para tal mudança é a evitação de lugares ou pessoas, agressividade com familiares e amiguinhos, queda no desenvolvimento escolar e até mesmo o isolamento fora do “comum” da criança. É de extrema importância que os pais ou responsáveis mantenham uma comunicação saudável com as crianças, mostrem que se importam, ouçam suas dores. Quais medidas tomar em casos de violência psicológica contra crianças? Primeiramente, acolher e dar credibilidade ao que a criança está falando, sem alarmar e se desesperar, a criança precisa de sentir acolhida e abraçada. Após esse momento com a criança, é importante que esses fatos sejam sondados e se realmente houver indícios de tal violência, os pais e ou responsáveis devem procurar o conselho tutelar para mais orientações e direcionar a criança para um profissional da saúde mental, para que os danos causados não gerem maiores consequências no seu desenvolvimento. O bullying se transformou em hate e na internet as pessoas se consideram numa terra sem lei e não poupam comentários. Como monitorar de forma saudável as crianças e adolescentes nas redes sociais? O monitoramento e controle dos acessos navegados pelas crianças e adolescentes é algo que precisa ser diariamente acompanhado pelos pais/responsáveis, lembrando que existem ferramentas para bloqueios de alguns sites, mas mesmo com essa ferramenta, o bullying pode acontecer. Por esse motivo, além desse acompanhamento operacional, é importante estar sempre conversando com as crianças e informando (na linguagem delas) o que possivelmente poderá acontecer nesse meio tecnológico e deixar claro que, se acontecer qualquer coisa fora do “normal” ela pode confiar em você. Devido a pandemia, as relações se tornaram mais virtuais. Quais comportamentos podem indicar que a criança ou adolescente está sofrendo ataques na internet ? O isolamento dentro do próprio lar, não querer mais ter momentos familiares, demonstrar uma irritabilidade por qualquer situação, abstinência de comidas, dentre outros comportamentos visíveis. Não deixem as crianças/adolescentes sozinhos, estejam sempre por perto, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Se importe, converse, seja uma pessoa em quem eles possam confiar. Quais as possíveis consequências do bullying ou ódio que vem da internet? Não podemos rotular o bullying como frescura, pois o bullying nada mais é do que uma tortura psicológica e isso pode causar vários danos, como atraso no desenvolvimento infantil, comportamentos agressivos, fobia social, dificuldades para dormir, tendência a depressão, baixa autoestima, dificuldade de relacionamento social, alteração na alimentação e falta de confiança, o que irá dificultar nas tomadas de decisões. Como abordar uma criança em caso de suspeitas? “Tenho percebido que você está um pouco triste, você sabe que pode confiar, vamos conversar ?“ Se a criança não quiser conversar naquele momento, abrace e diga que ela pode sempre contar com você e quando ela se sentir à vontade para falar, você faz questão de ouvir-lá. Estimular o diálogo e se importar com a dor das crianças, mesmo que ela não fale no momento, fará com que ela saiba que pode confiar em você. Qual dica você gostaria de dar aos pais para que eles possam fazer mais parte do dia a dia dos filhos e dos seus sentimentos? Sabemos que a correria do dia a dia muitas vezes atrapalha essa aproximação afetiva de pai/filho, mas a dica é, aproveite os pequenos momentos para torná-los em grandes memórias. Assistam filmes juntos, cozinhem juntos, façam cabanas em casa, até mesmo uma ida na escola ou supermercado, busque inovar e esteja mais perto das crianças. E uma dica que não pode faltar, ao final do dia, converse com seu filho, pergunte como foi o dia dele e conte como foi o seu.

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