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Maré

UMA GERAÇÃO DE ESGOTADOS

Síndrome de Burnout é reconhecida como doença ocupacional pela OMS; saiba as causas, sintomas e como prevenir

Por MAYLSON HONORATO - EDITOR DA REVISTA MARÉ | Edição do dia 15/01/2022

Matéria atualizada em 15/01/2022 às 04h00

“Uma vontade de morrer quando chegava a hora de ir trabalhar” - É assim que a jovem, que pediu para ser identificada apenas como Cris, descreve o que sentia antes de ser diagnosticada com a Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional. Em 1º de janeiro, o problema passou a ser considerado doença ocupacional, após sua inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Eu sentia um peso gigante, mesmo eu gostando muito do lugar onde eu trabalhava e do que eu fazia. Era minha vocação. Eu mesma não entendia o motivo de tanta dor ao pensar em retornar para lá”, complementa a publicitária.

A síndrome é resultado do estresse crônico no ambiente de trabalho que não foi gerenciado da maneira correta. De acordo com o psicólogo clínico João Paulo Alves (CRP 15/6139), esse estresse acumulado culmina no surgimento de sintomas e até de outros quadros clínicos.

“É mais frequente do que se pensa. No período pandêmico, por exemplo, houve um aumento na incidência de casos por conta do excesso de atribuições”, aponta o profissional, que lista os principais sintomas da doença.

“Esgotamento físico e mental, alterações no apetite, alterações no ciclo circadiano (sono), sentimento de fracasso, falta de motivação, falta de concentração, ansiedade, são alguns dos sinais clássicos.”

Somente no Brasil, segundo a International Stress Management Association do Brasil (ISMA-BR), cerca de 33 milhões de pessoas são acometidas pela síndrome, o que representa aproximadamente 15% da população. Para Cris, não saber do que se tratava quando começou a perceber os sintomas, tornou o processo ainda mais difícil.

“Eu achava que era qualquer outra coisa. Pensei que fosse ansiedade, pensei que era falta de exercício, de diversão, pensei sempre que era eu mesma e não o local onde eu estava, os procedimentos e a forma com que o trabalho estava organizado”, pontua.

O psicólogo João Paulo Alves alerta que a Síndrome de Burnout se diferencia dos demais transtornos pela especificidade do ambiente desencadeador. Apesar disso, ele não descarta que problemas como ansiedade e depressão recebam contribuições de ambientes insalubres. Por essa razão, o diagnóstico correto só pode ser feito por um profissional.

“Pessoas podem desenvolver depressão e ansiedade no ambiente de trabalho, mas esses transtornos podem ter influência de causas externas que são potencializadas no ambiente laboral. Também ocorre de as pessoas desenvolverem esses mesmos transtornos em outros ambientes de convívio e por conta de outras situações da vida”, pondera. “E esse é o grande fator diferencial. O ambiente laboral não é a consequência, mas a causa”, pontua João Paulo.

Com apenas 23 anos, Hugo Lima diz que recebeu o diagnóstico de Burnout no ano passado. Ele diz que trabalha no mesmo local, uma empresa da família, desde os 18 anos e que começou a apresentar os sintomas em meio às mudanças ocasionadas pela pandemia.

“O home office foi difícil pra muita gente. Eu estava presencial e tinha que lidar com as cobranças e cobrar dos outros resultados que pareciam cada vez mais difíceis. A cobrança passou a ser pela internet, as palavras tinham um peso muito grande, tudo parecia muito seco. Foi um momento difícil que eu realmente acho que impulsionou a doença”, diz o rapaz, que apesar do diagnóstico, ainda não se afastou do ambiente de trabalho.

Segundo o psicólogo, como o transtorno está diretamente ligado ao desenvolvimento de sentimentos e emoções negativas frente às atividades produtivas, é importante que a pessoa acometida recorra aos serviços psicoterapêuticos para que se possa avaliar o nível de influência do problema na rotina funcional da pessoa.

“A partir da identificação, pode-se também recorrer ao tratamento medicamentoso, visto que o transtorno pode desencadear na manifestação de outras comorbidades, como a ansiedade e a depressão”, orienta o profissional.

“É importante também a adoção de uma rotina que favoreça na diminuição dos impactos sintomáticos, como a prática de atividades físicas para que se obtenha uma produção regular de substâncias neuroquímicas, responsáveis pelo bem-estar e que estimulam a motivação e melhora a qualidade do sono, por exemplo”, finaliza João Paulo Alves.


Sintomas

- Distúrbios do sono

- Dores musculares e de cabeça

- Irritabilidade

- Alterações de humor

- Falhas de memória

- Dificuldade de concentração

- Agressividade

- Isolamento e pessimismo

- Ansiedade

- Alterações na relação com a comida

- Baixa autoestima

- Queda de produtividade

- Sentimento de apatia e desesperança


Prevenção

- Prática de exercícios físicos

- Alimentação adequada

- Pausas para o lazer

- Se cobrar menos

- Organizar as tarefas

- Gozar das férias e das folgas

- Cultivar relacionamentos saudáveis no trabalho


Profissões mais afetadas

- Profissionais de saúde

- Jornalistas

- Advogados

- Professores

- Psicólogos

- Policiais, bombeiros e carcereiros

- Bancários

- Assistentes sociais

- Atendentes de telemarketing

- Bancários

- Executivos

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