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120 mil pessoas moram sozinhas em Alagoas, de acordo com o IBGE; saiba quais os benefícios e os riscos desse estilo de vida

Por THAUANE RODRIGUES* ESTAGIÁRIA | Edição do dia 06/08/2022

Matéria atualizada em 09/08/2022 às 14h26

 

Foto: Agência Brasil
 

Sonho de uns e terror de outros, morar sozinho tem se mostrado uma realidade para muitos brasileiros. Por opção ou necessidade, cada vez mais pessoas abrem mão do seio familiar para encarar o desafio de lidar com a linha tênue entre a liberdade e a solidão. Em Alagoas, cerca de 120 mil pessoas moram sozinhas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em dados divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), é possível ver que desde 2012 o número de brasileiros que moram sozinhos vem aumentando. A pesquisa realizada em 2021 mostra que são quase 10,8 milhões de brasileiros que administram a casa por conta própria.

Em Alagoas, ao menos 120 mil pessoas vivem sozinhas, apontou a pesquisa do IBGE. Um aumento de mais de 40% em relação a 2012, quando a pesquisa foi realizada pela última vez. Os homens são a maioria dos que moram sozinhos, 70 mil.

O psicólogo João Paulo Alves (CRP-15/6139) explica que, de um ponto de vista orgânico, morar sozinho traz uma série de responsabilidades que podem auxiliar na construção de uma identidade adulta mais saudável.

“O gerenciamento de uma casa, de uma rotina, a estruturação financeira são fatores propulsores para uma saúde mental de qualidade visto que somos indivíduos pensados para a produtividade. Os ganhos em saúde mental são evidenciados a partir dessa possibilidade de autogerenciamento, no qual cada pessoa é convidada a uma constante mobilização, aprendendo a lidar com os conflitos, buscando meios de solucioná-los, exercitando, assim, a sensorialidade, criando conexões neuronais mediante a exposição à experiências novas e desafiadoras”, disse ele.

Entretanto, como nem tudo são flores, em alguns casos, o tempo sozinho em casa pode trazer riscos, levando em consideração que o contato com outras pessoas é fundamental para viver bem.

“Já se tratando de malefícios, pode-se dizer que, enquanto seres sociais, o contato com outras pessoas é fundamental. Mas há casos e casos. Pessoas com personalidades mais introspectivas tendem a visualizar nessa emancipação uma forma de vivenciarem com plenitude um contexto de acesso mais restrito sem exposições. Já outras pessoas que se exercem com mais facilidade a partir do contato com outras, pode não se acostumar a uma rotina mais solitária. É preciso pensar em cada situação com suas particularidades”, explicou o psicólogo.

Ganhar independência, mais liberdade, privacidade, viver novas experiências ou até mesmo melhorar a saúde mental. Diversos são os motivos que levam os jovens alagoanos a saírem do seio familiar. De acordo com o psicólogo João Paulo, muitas pessoas vão morar sozinhas buscando se distanciar de um ambiente turbulento.

“Muitas pessoas recorrem a essa emancipação como forma de se distanciar de um núcleo familiar insalubre. Cada família é uma instituição normativa e seu funcionamento se orienta dentro desses princípios. Sendo assim, os membros desse sistema são convocados a se portarem conforme rege o código normativo daquele espaço. Em algumas situações, esse contexto é extremamente rígido e limitador, no qual a expressão da identidade individual encontra percalços, tendendo a não se exercer e, consequentemente, induzindo a pessoa a entrar em um ciclo neurótico que a impede de suprir suas necessidades pessoais”, disse ele.

Ainda de acordo com o profissional, para muitos que vivem em núcleos familiares insalubres, cedo ou tarde, a necessidade de impor limites para priorizar a saúde mental e conseguir se reconhecer dentro do próprio lar irá aparecer.


“Alguns lares também utilizam esse poder e hierarquia cêntricos como instrumento de subjugação, estabelecendo relações tóxicas e abusivas. Desse modo, o sair de casa assume um papel importante para a imposição de limites, para a reconstrução da identidade pessoal ferida por seus vínculos, para uma ressignificação dos papéis assumidos por cada membro do núcleo e para visualizar de fora os vícios de comportamento alimentados no tocante à convivência, buscando meios de não replicá-los”, explicou João Paulo.

DONO DE CASA DE PRIMEIRA VIAGEM

Como lidar com as mudanças nem sempre é tão fácil, para aqueles que decidem morar sozinhos, readaptar a rotina e costumes demora e precisa de calma, de tempo para se acostumar com o novo formato de vida. Criar planejamentos de gastos, de cuidados consigo e com a casa e de possíveis momentos de lazer são pontos importantes para fazer os dias dentro do novo lar saírem da melhor forma.

“A sugestão para lidar com esse novo momento de vida, que nem sempre é fácil, é criar referências afetivas ao espaço agora ocupado. Uma casa com aspecto impessoal reforça a busca pelo contexto anterior pela ausência dessas referências. Elabore uma rotina produtiva intercalando obrigações e prazeres”, defende o profissional.

Além disso, o psicólogo sugere que em momentos turbulentos o novo dono de casa procure ajuda de amigos, familiares ou relacionamentos. Afinal, ter quem se gosta por perto é sempre válido.

“Peça ajuda se preciso, mas não espere que façam por você, pois é absolutamente normal não saber lidar com todas as situações da forma como se deve no início, mas, solicite esse auxílio como modo de se desenvolver autonomamente. Por fim, esteja presente na ausência. Se sua relação familiar é saudável, esteja em contato com eles. Caso não, busque estar perto de alguma referência afetiva segura. O isolamento total também acarreta consequências negativas à saúde mental”, orientou ele.


* Sob supervisão da editoria da Revista Maré

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