Artesanal e na moda, a sandália tipicamente conhecida como xô boi é um dos grandes xodós nordestinos. Cheia de autenticidade, regionalidade e estilo, o calçado que carrega consigo muita história e alguns nomes, resiste aos impactos do tempo, se reinventa e se mantém nos pés dos alagoanos.
Conta-se a história que a tão amada xô boi surgiu após um pedido inusitado de uma nova ‘percata’ feito por Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, ao artesão que produzia seus calçados. Com o tempo, a sandália terminou caindo no gosto popular e tornando-se o calçado dos sertanejos. Hoje, assumindo seu posto de atemporal, o item tem sido bastante usado para complementar os looks e dar um verdadeiro toque do estilo nordestino.
Para a professora da Escola Técnica de Artes da UFAL e especialista em moda, Pollyanna Isbelo, a sandália é um verdadeiro clássico, tanto que quando se é citada logo é possível imaginar o produto artesanal e cheio de relação com a nordestinidade.
“Algo que acontece com os produtos de moda é que eles tem um tempo, que vai do auge ao período de queda, mas esse não é o caso da xô boi, ela se mantém o ano inteiro e assumiu várias características inovadoras. Hoje encontramos tendências que se encaixam perfeitamente nas sandálias, como o animal print e as cores metalizadas”, explicou ela.
A especialista ainda afirma que usar complementar o look com uma xô boi é uma forma de reforçar e valorizar a identidade nordestina e alagoana. “Ela pode virar um grande combo, sendo clássico quando é usado como ponto chave do look ou até mesmo um complemento estiloso”.
Sendo um dos produtos mais procurados dentro do Mercado do Artesanato de Maceió, a também conhecida como “sandália sertaneja” além de tudo é a fonte de renda de muitas famílias que trabalham com a venda de produtos artesanais.
Há mais de 30 anos, a comerciante Elizete dos Santos encontrou na venda das sandálias e de diversos outros produtos artesanais uma forma de gerar mais renda para a família. Hoje em dia, conta com ajuda do filho para seguir na rotina de vendas e passa para a próxima geração o afeto pelas peças artesanais, inclusive a xô boi.
“Com ou sem São João, a xô boi sempre foi um dos meus produtos mais vendidos, de todas as cores e todos os tipos. Eu mesma faço sempre questão de usar ela ou outras sandálias de couro, me sinto protegida e traz uma energia boa. Tenho clientes de décadas que vem aqui na loja apenas para comprar a xô boi e só usam ela, além dos turistas que acham incrível e levam elas para o mundo”, contou.
Já a comerciante Rosa Maria trabalha com as xô boi há oito anos e tem notado um grande aumento das vendas devido a influência de blogueiras que começaram a aderir o uso da sandália. Com calçados de todas cores e até mesmo estampadas, Rosa Maria revela que muitas mulheres chegam com fotos de famosas buscando um item igual.
“As pessoas procuram demais durante o ano inteiro, sempre tem alguém querendo. Muitos optam por peças nos tons mais naturais, mas já tenho uma boa clientela que adoram as cores mais chamativas, algumas inclusive me pedem por encomenda”, disse ela.
O aposentado Luiz Silva é um dos clientes antigos que fazem questão de comprar e usar todos os dias a amada xô boi. “Desde que me entendo por gente que uso, acho confortável e não troco. Meus filhos reclamam, me pedem para encontrar uma sandália ortopédica, mas não aceito e estou ensinando aos meus netos. Hoje, só vim aqui para comprar a primeira xô boi do meu neto mais novo que nasceu recentemente.”.
Foi pensando em proporcionar às futuras gerações um ensinamento sobre regionalidade e história que Valéria da Rocha buscou os produtos do Mercado do Artesanato para comprar a roupa junina do sobrinho.
“Sempre busco comprar roupas que ele entenda a história, ano passado ele estava de matuto, esse ano estará de cangaceiro e estou buscando uma xô boi para que ele saiba a importância cultural e histórica do produto. Meu intuito é que a cultura não seja perdida e fazer com que ele aprenda sobre a cultura nordestina”, disse ela.