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Opinião

VIDAS NEGRAS IMPORTAM

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Por Francisco Alexandre. engenheiro civil, advogado, AMP – Harvard Business School | Edição do dia 03/06/2020

Matéria atualizada em 03/06/2020 às 06h00

Na segunda-feira, 25, o mundo tomou conhecimento do assassinato à sangue frio de George Floyd, um negro, na cidade americana de Minneapolis, por um policial branco. As câmeras de celulares denunciaram ao mundo o assassinato que durou nove minutos, por asfixia, depois de ter sido imobilizado.

Até ontem, sete depois, o protesto da comunidade negra americana acontecia em mais várias cidades incluindo Nova York, Washington, Boston e Minneapolis, cobrando punição dos culpados, na maior mobilização desde a morte de Marte Luther King em 1968. O levante nos Estados Unidos tem como slogan “Black lives matter – Vidas negras importam”, movimento pelo fim da discriminação de mais de 400 anos naquele país, que tem 13% da população de negros, mas na estatística de mortos pela polícia representam 50%. É possível pensar que não há comparação com a situação da comunidade negra do Brasil. No entanto, é esse o ponto. No Brasil, 55% da população é composta por negros que sofreram mais de 300 anos de escravização. Foram libertados e pouco foi feito 130 anos depois para inclusão e diminuição da desigualdade entre negros e brancos. A população negra continua trabalhando em empregos degradados, morando em favelas em condições desumanas. No ano passado morreram mais de 42 mil pessoas por assassinato, sendo que 75% dos mortos eram negros, estatística que se repete a cada ano. Esse tema, infelizmente, funciona como uma verdade inconveniente para nós, que costumamos declarar que não existe discriminação no Brasil. Para saber que temos discriminação, além das evidenciada no dia a dia na rua, na loja, no shopping e na padaria da esquina, observemos as principais instituições do país. No Congresso, Nacional são apenas 17%, sendo que apenas 3% se elegeu assumindo serem negros. Nas Assembleias Legislativas o cenário é pior ainda a exemplo de estados como São Paulo tem 30% de negros e pardos no Estado e apenas 5 parlamentares ou 5%, em Pernambuco 57% da população é negra, mas nenhum parlamentar da Assembleia é negro. O mesmo acontece em Alagoas, terra de Zumbi, com 30% da população negra e nenhum representante na Assembleia Legislativa. Podemos ir mais adiante e observar que os 55% da população do país, composto por negros, não têm assento em cargos importantes nos poderes judiciário, executivo e legislativo ou no mundo empresarial, enfim, falta muito. Para quem acha que isso é radicalismo, seria interessante o exercício em uma das idas a um dos órgãos públicos, numa empresa pública, no fórum da cidade, ou ainda tentar lembrar quantos negros são presidentes m grandes empresas privadas no país. Será fácil você concluir que é raro ou que não há em muitos casos. Pensar que dormimos tranquilos porque aqui não há racismo, que casos como o de George Floyd é coisa de outros países é esconder a realidade vivida por milhões de brasileiros, que sofrem do mesmo modo que muitos em outros países a discriminação em razão da cor, ou seja, ser negro.

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