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Maceió,
Nº 5693
Opinião

O NOVO NORMAL

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Por Sérgio Arnoud. presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros e da Federação Sindical dos Servidores Públicos/RS | Edição do dia 04/06/2020

Matéria atualizada em 04/06/2020 às 06h00

Cresce a percepção de que o mundo não será mais o mesmo depois da Covid-19, o que é provável, pelos danos e consequências irremediáveis que ela vem causando por onde passa. E já se especula como será o novo normal. O que envolve aspectos sociais, comportamentais, econômicos e também do tipo de Estado que teremos, a partir da experiência catastrófica da pandemia.

Não desejo o retorno da antiga “normalidade” que tínhamos, onde apesar da abundância, milhões de pessoas morriam e continuam morrendo de fome, enquanto poucos acumulam fortunas incalculáveis. Não quero de volta uma normalidade que contempla a devastação do meio ambiente, sem preocupação com o mundo que deixaremos para filhos e netos. Também não aceito que o trabalho humano, ao invés de premiar os trabalhadores com os benefícios do progresso científico-tecnológico, ao contrário, favoreça o desemprego e o trabalho informal. A lição importante que recolhemos dessa pandemia é que o papel do Estado, antes execrado em nome da predominância do mercado, voltou a ocupar o centro do palco. Ninguém, senão o Estado e seus trabalhadores e servidores, está na linha de frente enfrentando essa verdadeira guerra. Apoios e doações pontuais são importantes, mas as políticas e ações de enfrentamento, só o poder público tem condições de fazer. E, no caso do Brasil, muito mal.

Nossos governos sempre premiam o sistema financeiro, os bancos que abocanham mais de 45% do orçamento nacional por conta de juros da dívida, e que foram os primeiros a receber R$ 1,2 trilhão sem qualquer contrapartida. E entesouraram. Enquanto isso, trabalhadores se infectam nas filas para receber R$ 600,00, ou US$ 100,00, e micro, pequenos e médios empresários ficam à míngua. E servidores e trabalhadores pagam a conta e segundo Queiroz, continuarão pagando. O novo normal deve se apoiar num Estado democrático necessário, capaz de entender essa nova realidade. Um Estado que esteja preparado para enfrentar o fornecimento de saúde universal, o SUS, sem o qual a tragédia seria multiplicada.

Uma nova realidade onde quem tem jatinho, jet ski, helicópteros e iates pague impostos, onde os lucros e heranças milionárias sejam taxadas. Este Estado deve ser a base onde repouse uma sociedade livre, mais justa, solidária e com respeito aos direitos e opções individuais.

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