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Maceió,
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Opinião

UMA CHANCE AO DIÁLOGO

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Por Editorial | Edição do dia 11/07/2020

Matéria atualizada em 11/07/2020 às 06h00

Nesta edição, a Gazeta disponibiliza ampla reportagem sobre o drama vivido por milhares de famílias de Maceió, em razão dos graves problemas ocasionados pela extração de sal-gema, através de poços operados no curso de quase meio século.

O material jornalístico faz ampla radiografia e atualiza o tema, com foco nos bairros do Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro. Também informa acerca das providências que estão sendo adotadas para resolver a situação de quem precisa abandonar suas raízes e histórias e tentar reconstruir suas vidas em outro teto. A abordagem não poderia ser mais oportuna. Afinal, está começando o semestre das eleições municipais. Estará sob debate o futuro de Maceió, a cidade que desejamos para viver e criar nossos filhos, especialmente em razão das lições desta grave crise sanitária e da qualidade de vida almejada. Lá atrás, o regime de exceção impôs, na restinga do Pontal da Barra, a Salgema Indústrias Químicas S/A. Não se mediu a consequência negativa para a vida, nem foi avaliada a conservação do Sul de Maceió e seu ecossistema. Muito menos a repercussão futura na expansão urbana da cidade, em harmonia com o conceito de desenvolvimento sustentável. Faltou planejamento. Infelizmente, a fábrica nasceu sob o signo da controvérsia. Ao tempo que produz matéria-prima de alta importância para vida moderna e para a economia, manipula produtos de alto risco à vida humana e ao meio ambiente. Sobre o assunto, em 1986, o deputado federal Fernando Collor foi taxativo: “O governo tem o dever de visar o bem comum e este nem sempre coincide com a procura incessante de lucro do capital. A localização da fábrica foi fruto de uma decisão, no mínimo, impensada”. Passou a Salgema e veio a Trikem, que foi incorporada pela Braskem. Nessa história de divisão de responsabilidades por tudo que aconteceu, vale destacar a histórica conduta leniente dos órgãos públicos e seus dirigentes com poder de decisão, que avalizaram a planta industrial naquela localidade. Agora, no meio da angústia das pessoas, com bairros que racham e afundam, Maceió vive desde o ano passado sob calamidade pública decretada pelo governo federal. Como se costuma nascer oportunidade no meio de uma crise, talvez seja hora de reunir os envolvidos nessa pendenga para construção de um grande entendimento, de uma saída que descortine para um novo tempo. Com a paralisação da fábrica de cloro-soda e dicloretano, desde 2019, e a desativação da mineração a 8 km dela, é de se pensar na possibilidade real de remanejamento dessa planta industrial do seio da cidade de Maceió. Como a sociedade receberia a iniciativa de um diálogo de alto nível entre a classe política alagoana, os acionistas e todas as esferas de poder, principalmente o governo federal, cuja Petrobras é dona de 47% das ações da Braskem? Na hipótese de uma relocalização da fábrica, que possui alternativas em Alagoas para extração de sal-gema, o Sul de Maceió poderia beneficiar-se com uma grande requalificação. A reimplantação da empresa pacificaria e consolidaria a indústria química e seu segmento de mercado, fortalecendo a economia alagoana. Para se ter desfecho positivo, em que todos possam ganhar, a partir da população, a missão clama por uma chance ao diálogo, sob o signo do compromisso, do desprendimento e do espírito público.

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