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Maceió,
Nº 5694
Opinião

O SUS E AS VACINAS

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Por Marcos Davi Melo. médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 08/08/2020

Matéria atualizada em 08/08/2020 às 06h00

As autoridades de saúde e os pesquisadores envolvidos com a pandemia de Covid-19 registram que existem 164 vacinas em desenvolvimento, sendo 25 em fase de experiência clínica e 193 em fase pré-clínica. Essas pesquisas se desenvolvem em velocidade sem precedentes: em média uma vacina leva 10 anos para obter a sua liberação e administração. O recorde atual é da vacina do Ebola, que levou 5 anos. Nada causaria maior felicidade no mundo agora do que uma vacina salvadora. A Rússia alardeia que em dois meses já iniciará uma vacinação em massa. Cientistas norte-americanos temem que o populismo do Executivo force a liberação de vacinas sem a sua aprovação definitiva. Contudo, apesar de todos os avanços da ciência, a OMS aventou recentemente a possibilidade de que uma vacina com proteção adequada possa nunca ser obtida.

Embora a OMS tenha recuado em algumas afirmações anteriores, nunca houve antes uma pandemia de coronavírus, e o que pareceria ser uma locação pessimista alinha-se ao axioma de Adam Smith ( 1723-1790), fundador do liberalismo no capitalismo: “A ciência é o grande antídoto ao veneno do entusiasmo e da superstição”. Sabe-se que a pandemia do novo coronavírus apresenta dois grandes riscos: dissemina-se rapidamente e é mortal. A sua taxa de letalidade, embora seja de 0,6%, é bem maior, de 4%, em casos diagnosticados, e mesmo assim é alta se comparada com a pandemia do vírus Influenza A em 2009, que causava uma morte em cada 10 mil doentes. Depois de 5 meses de instalada no Brasil, a pandemia de Covid-19 chega aos 3 milhões de infectados e a 100 mil mortes, e ainda se apresenta em crescimento em vários os estados brasileiros, com mais de mil mortes diárias. A pandemia trouxe essa legião de mortes de brasileiros, entristeceu pessoas de bem, mostrou falta de comprometimento adequado de altas autoridades com os destinos da população, mas trouxe também um lado positivo: a solidariedade que se espalhou pela Nação, unindo pessoas físicas, empresas ricas e pobres, no esforço solidário contra o coronavírus. Empresas grandes e pequenas (raramente na nossa região) fizeram doações para hospitais e secretarias de Saúde, cujo soma já ultrapassa a casa de R$ 1,5 bilhão, ajudando bastante às instituições que atendem ao SUS e que ainda precisam permanecer alertas, desde que alguns cientistas aventam a possibilidade da pandemia perdurar por mais 12 a 16 meses entre nós. No zênite, contudo, biólogos acenam com a perspectiva da imunidade comunitária ser obtida com um percentual coletivo menor, uma concepção otimista a ser acompanhada pormenorizadamente. A pandemia tem levado embora precocemente pessoas que ainda viveriam muito e mesmo o novo coronavírus não tendo ainda cura, os seus efeitos devastadores poderiam ter sido minimizados caso o governo federal tivesse adotado oficialmente as medidas sanitárias propostas pela OMS e pela consagração da prática científica mundial. A pandemia tem mostrado também que o Sistema Único de Saúde (SUS) faz a sua parte, ele funciona e funciona bem. Só por isso os estragos não são ainda maiores, mesmo não contando com o comprometimento de parte da população com as medidas sanitárias preconizadas. Jamais o sistema privado daria conta de atender aos de 78% da população brasileira que dependem exclusivamente do SUS. Adam Smith, um dos pais do capitalismo, já sabia a importância da ciência e da saúde como sustentáculos fundamentais do desenvolvimento econômico. O SUS, mesmo sendo cronicamente subfinanciado e eterna vítima do mau uso de políticos e empresários inescrupulosos que desviam seus recursos para outros fins, ele se afirma como um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, o que deve orgulhar os brasileiros. Mais do que nunca é hora de rever as premissas para a atenção à saúde dos brasileiros pelo SUS, aparelhá-lo devidamente, realizar as correções necessárias para que possa fazer o seu meritório trabalho. Que as famílias que perderam os seus pais nessa pandemia possam contar com o consolo dessa esperança.

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