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Opinião

A AURORA BOREAL DAS CRIANÇAS

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 22/01/2022

Matéria atualizada em 22/01/2022 às 04h00

Churchill afirmou certa vez:” Não há melhor investimento para uma comunidade do que dar leite às suas crianças”. Foi em um discurso feito em 21/03/1943. O Reino Unido sofria então extraordinária provação na Segunda Guerra mundial. Hoje, Churchil, um conservador lúcido, adepto da ciência e da democracia, certamente diria que o melhor para as crianças seria vaciná-las contra a Covid-19. As primeiras vacinas Pfizer em crianças abaixo de 11 anos começaram a ser administradas no Brasil, apesar de todas as tentativas de sabotagens. Numa época de trevas, ver essas crianças vacinadas e seus pais aliviados têm nos encantado como se fosse uma aurora boreal. Como todos esperavam, menos o ministro da Saúde, a procura tem sido infinitamente maior do que a oferta. As vacinas de RNA mensageiro, como a da Pfizer e da Moderna, são pesquisadas e estudadas há 30 anos e a sua descobridora, a bioquímica húngara Katalin Karikó, é fortíssima candidata ao Prêmio Nobel.

Para melhorar esse cenário de sofrimento injustificável de crianças e pais em busca de vacinas, a CoronaVac está liberada pela Anvisa e disponível com 15 milhões de vacinas. Com o altíssimo poder de infecção da variante Ômicron, os cientistas atualizaram suas projeções e acreditam ser necessário 90% de cobertura vacinal na população. Os especialistas afirmam que os dois maiores obstáculos para controlar a pandemia de Covid-19 atualmente são as crianças não vacinadas e a vacinação incompleta de parcela importante da comunidade. Embora as crianças, na maioria dos casos, quando infectadas, possam não ter a mesma gravidade dos adultos, muitas delas adoecem gravemente e são elas a principal forma de transmissão da infecção para os pais e avós. Reitere-se o básico: as vacinas evitam a proliferação de casos mais graves e internamentos, não impedem as infecções, mas os vacinados completamente têm geralmente casos mais leves. A imensa maioria dos brasileiros defende as vacinas, é uma bela postura cívica adquirida em décadas de boas e salutares práticas. Embora os negacionistas persistam boicotando-as, em favor do vírus e da morte, e ignorando a ciência, seja por desinformação ou por piores e inconfessáveis propósitos, as crianças com sua sensatez e sinceridade os vencem e os envergonham. Em relação aos desinformados que seguiram os negacionistas, lembramos Molière quando escreveu: “Os erros mais curtos são os melhores”. Já temos muitos erros há tempo demais, que nos custaram milhares de vidas, e nunca é tarde para reconhecê-los. Corrigir nossos erros não é uma fraqueza, mas uma força decorrente de uma virtude peregrina da personalidade humana: a humildade. Daqui a 100, 200 anos, essa pandemia de Covid-19 será objeto de estudos e todos os que trabalharam alinhados à ciência em defesa da vida estarão nas páginas de ouro do livro da história para orgulho e honra de filhos e netos.

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