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Maceió,
Nº 5693
Política

MINERAÇÃO DA BRASKEM FAZ BAIRROS SUMIREM LENTAMENTE NA CAPITAL

Mais de 53 mil habitantes veem sonhos desabarem e Maceió perde importante parte da sua história com colapso geológico

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 11/07/2020

Matéria atualizada em 11/07/2020 às 07h55

Cenário no bairro do Mutange mais parece de filme de guerra, com casas abandonadas e sendo demolidas aos poucos
Cenário no bairro do Mutange mais parece de filme de guerra, com casas abandonadas e sendo demolidas aos poucos | © Ailton Cruz

Mais da metade da população de 53 mil habitantes dos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto, entre eles 4,5 mil empreendedores que empregavam mais de 30 mil pessoas, há dois anos acompanha a extinção do local onde nasceram e se criaram ou para onde se mudaram, vendo seus sonhos desabarem por causa do “desmoronamento” radical causado pelas minas de exploração de sal-gema da Braskem. As minas estão paradas, mas a destruição e o perigo continuam. O novo mapa da feição do Serviço Geológico do Brasil (antiga CPRM) indica que a terra se movimenta e recomenda que os imóveis de mais duas mil precisam ser desocupados. Desaparecendo lentamente, grande parte dos bairros atingidos pela mineração mais parecem resultado de uma guerra, como as que atingiram países como a Síria. Os problemas geológicos causados pelas 35 minas da Braskem, além de provocar o “afundamento” do solo em quatro bairros, danos estruturais em imóveis, o esvaziamento populacional está levando para o buraco capítulos importantes da histórica cultural e do desenvolvimento de Maceió. Em pesquisas simples na internet é fácil constatar o legado urbano que se confunde com o crescimento e o desenvolvimento da capital de Alagoas.

BEBEDOURO

Pela lei estadual nº 386, de 24-05-1904, é criado o distrito de Bebedouro e anexado ao município de Maceió. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído de 3 distritos: Maceió, Bebedouro e Jaraguá. É um dos mais antigos e festeiros bairros de Maceió, Bebedouro é lembrado como palco de memoráveis festas, de encontros políticos, comércio em franco desenvolvimento. Já foi o preferido da elite alagoana, que construíam seus casarões na rua principal, próximo à lagoa Mundaú e da linha férrea. Serviu de reduto do português Jacintho Nunes Leite e do major Bonifácio Silveira, os dois construtores do progresso. Mas Bebedouro também foi palco de manifestos políticos, que desencadearam em verdadeiras guerrilhas, como a dos Lisos e Cabeludos. Os políticos sempre tiveram no bairro um reduto para suas propagandas em tempos de eleições, elegendo a Praça Lucena Maranhão como centro dos comícios, atraindo muitos eleitores. Quem viveu em Bebedouro até a década de 1950 não esquece o passeio de bonde até o Centro que se prolongava ao Farol, Pajuçara e Trapiche. Eram momentos de intenso prazer, apreciando a paisagem bonita dos casarões e dos trens de passageiros, que percorriam quase o mesmo trajeto.

PINHEIRO

Quando foi escolhida a área na Av. Fernandes Lima para a construção do Quartel do 20º Batalhão de Caçadores, inaugurado em 4 de dezembro de 1944, o local era considerado de sítios, fora da cidade. Foi este o primeiro equipamento urbano de grande porte a se instalar naquelas imediações, contribuindo para a ampliação da ocupação com moradias no bairro que veio a ser conhecido como Pinheiro. A atual Rua Prof. José da Silveira Camerino, antiga Rua Belo Horizonte, se constituiu como uma das mais importantes do Pinheiro por estabelecer fácil acesso, a partir da Av. Fernandes Lima, a Bebedouro. Foi nesta via que em 25 de abril de 1945 inaugurou-se o Hospital Severiano da Fonseca, hoje mais conhecido como Hospital Sanatório. Os mais antigos contam que havia uma nascente ou lagoa nas proximidades deste hospital, em um local conhecido como Mata do Leão. A água ali acumulada escoava em direção onde hoje está situado o CEPA, e de lá descia em direção à Lagoa Mundaú pela Gruta do Padre. Este declive em direção ao CEPA pode explicar os alagamentos que ainda ocorrem na Rua Miguel Palmeira nos períodos de muita chuva.

MUTANGE

É um bairro de Maceió localizado às margens da lagoa Mundaú. O bairro abriga importantes órgãos para o município o Estádio Gustavo Paiva conhecido como Estádio do Mutange, construído na década de 1920 que sediava os jogos disputados pelo Centro Sportivo Alagoano que posteriormente, se tornou o Centro de Treinamento do time. Atualmente, juntamente dos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Bom Parto, Mutange sofre com as consequências da extração de sal-gema da Braskem com o afundamento do solo no CT do CSA, casas bastante rachadas e avanços inesperados da lagoa.

BOM PARTO

É um dos mais populares bairros da cidade. É também um dos que apresentam menor extensão, localizado entre o Farol e a Lagoa Mundaú, dividindo-se com o Mutange e Levada. Já foi um típico bairro operário, com a Fábrica de Tecidos Alexandria, onde quase toda população dependia dessa atividade econômica. É um logradouro típico com muitas lendas, como a do “padre sem cabeça”, contada pelos moradores da Gruta do Padre. A história está ligada ao binômio fábrica-igreja. A origem é a Igreja de Nossa Senhora do Bom Parto, o símbolo do bairro, porque a mãe de Jesus (Virgem Maria) teve um bom parto. A paróquia foi criada em 1949. Os saudosistas que vivem ainda hoje no Bom Parto lembram dos tempos de apogeu da fábrica Alexandria. A fábrica fechou em 1966.

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