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Política

GOVERNO ENTREGARÁ ÁGUA DO CANAL DO SERTÃO À INICIATIVA PRIVADA

Para convencer prefeitos e deputados, Estado promete repassar 100% do faturamento dos leilões das outorgas aos municípios

Por arnaldo ferreira | Edição do dia 04/12/2021

Matéria atualizada em 04/12/2021 às 04h00

| Nealdo

Sem solução nem iniciativa para universalizar o abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto nos 89 municípios do Sertão, Agreste e do litoral, o governo de Alagoas vai leiloar, no próximo dia 13, as outorgas (concessão) desses serviços da Companhia de Saneamento (Casal) dos chamados blocos “B” e “C”, que não entraram no leilão do bloco “A” [13 municípios metropolitanos], no ano passado. Nesse novo leilão, estão incluídos até os 36 metros cúbicos por segundo da água do rio São Francisco que correm sem parar nos 120 quilômetros do Canal do Sertão, até hoje subaproveitado e sem nenhum projeto relevante de irrigação e abastecimento animal. A segunda maior obra hídrica do País em andamento custou mais de R$ 3 bilhões ao governo federal e ainda não chegou à metade do projeto original. Ao que tudo indica, a obra vai continuar recebendo recursos federais, mas a água será objeto de lucro para a iniciativa privada. O Canal do Sertão faz a captação no velho Chico, no vale do Moxotó, no município de Delmiro Gouveia (distante 300 quilômetros de Maceió). A água corre no canal por gravidade, serpenteia as regiões mais áridas do alto e médio Sertão até chegar ao município de São José da Tapera, onde a construção está atualmente parada. Os órgãos de fiscalização e controle do governo federal investigam supostas irregularidades e superfaturamento no trecho cinco, que deveria ter começado no primeiro semestre. O projeto original prevê 250 quilômetros de canal até o município de Arapiraca. A construção começou em 1990, é tocada pela Secretaria de Estado da Infraestrutura e não tem previsão de conclusão. Os 36 metros cúbicos por segundo captados equivalem a um terço do volume da captação dos dois canais da transposição do Nordeste. Outro detalhe revelado recentemente pelo deputado Inácio de Loiola (PDT) é que na central de captação do canal, no Vale do Moxotó, tem seis bombas de sucção. Cinco delas estão quebradas. Ao longo do canal, há diversas ligações clandestinas para irrigação sem nenhuma orientação técnica. Neste momento, em que 42 municípios decretaram situação de emergência por causa da seca e aguardam a liberação de 100 caminhões-pipa do Exército para levar água para mais de 300 mil sertanejos da zona rural, a Casal garante que “atende oito municípios do Alto Sertão com água do canal”. As cidades atendidas, segundo a autarquia, são: Delmiro Gouveia, Pariconha, Água Branca, Mata Grande, Canapi, Inhapi, Olho d’Água do Casado, além do povoado Piau, em Piranhas.

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