A crise acentuada no diretório estadual do Partido dos Trabalhadores tem provocado uma série de manifestações públicas de militantes históricos e alguns nomes já despontam como possíveis substitutos de Ricardo Barbosa na presidência da legenda em Alagoas. A disputa será em junho do ano que vem, mas as críticas ao comando do PT antecipam o embate futuro.
Como a sigla é formada por várias correntes internas, é natural que as mais expoentes (com políticos de mandato e geridas por entidades da sociedade civil organizada) evidenciem alguns de seus líderes.
O movimento ‘Construindo um Brasil Novo (CNB)’, por exemplo, ligado ao deputado federal Paulão, praticamente bateu o martelo e quer indicar a atual presidenta do Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, Dafne Orion, para concorrer ao cargo. Evidentemente que, até o fim do primeiro semestre de 2025, as discussões podem alterar o quadro, mas, hoje, tudo converge para essa indicação.
A corrente ‘Resistência Socialista’, surgida em 2022, é a mais barulhenta e a mais crítica à atuação de Ricardo Barbosa. O grupo tem como coordenador o deputado estadual Ronaldo Medeiros, que surge como uma opção para a disputa do comando do diretório. Ele mesmo não nega essa possibilidade e assinou uma nota sugerindo o afastamento do atual presidente do PT para que as denúncias de irregularidades no uso dos recursos do fundo especial de campanha sejam apuradas.
“Reafirmamos a importância da ética e da transparência na gestão de recursos públicos, valores inegociáveis para quem constrói o Partido dos Trabalhadores em Alagoas. Diante da gravidade das acusações, defendemos a justa apuração dos fatos, com a garantia do amplo direito de defesa ao companheiro Ricardo Barbosa. Acreditamos que, para preservar a imagem do PT e garantir a lisura do processo de apuração, é fundamental que o companheiro Ricardo Barbosa se licencie do cargo de presidente estadual do PT”, diz a nota.
À Gazeta, Medeiros diz ter esperança que Ricardo peça uma licença. “Enquanto ele não sai, expõe o partido”, disparou.
Da tendência ‘Democracia Socialista’, composta majoritariamente pelos integrantes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Alagoas (Sinteal), a pessoa mais forte para concorrer à presidência do Partido dos Trabalhadores é o de Lenilda Lima, militante histórica da sigla no Estado.
O movimento ‘O Trabalho’ tem como principal líder o professor Luizinho, do Sindicato dos Professores da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal). E, para fechar a lista, o presidente do diretório municipal de Maceió, Marcelo Nascimento, deve deixar o CNB e integrar um novo grupo, que o credenciaria a ser mais um pré-candidato.
Essas correntes internas do PT Alagoas vão formar alianças para competir no processo eleitoral, cuja previsão é que aconteça no dia 28 de junho de 2025. A escolha será no Brasil inteiro, contemplando os diretórios estaduais, municipais e o nacional. As regras para a disputa vão ser definidas no encontro nacional do PT, marcado para os dias 5, 6 e 7 de dezembro, em Brasília.
COLETIVIDADE
À Gazeta, Ricardo Barbosa disse que as narrativas construídas contra o PT não têm base na realidade. “Nossas contas foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), e todas as decisões são tomadas coletivamente, nunca por uma única pessoa. No PT, ninguém é maior que o partido, e essa coletividade é o que nos mantém firmes. Esses ataques refletem um movimento maior em nível nacional. A mesma extrema-direita que propaga desinformação em Alagoas esteve por trás de planos absurdos, como o recém-descoberto esquema para assassinar o Presidente Lula. A máquina de fake news continua ativa, comprando narrativas e tentando esconder a verdade”.
OPOSIÇÃO
Pela primeira vez, desde que o partido foi fundado em Alagoas, em 1982, existe a possibilidade real de que um grupo opositor vença a eleição para o diretório regional. A corrente partidária “Resistência” garante que terá a maioria de votos dos doze mil filiados petistas, porque está trabalhando junto aos diretórios municipais e conta com o apoio de outras tendências para a eleição.
Ronaldo Medeiros lidera um movimento que considera de renovação partidária, criticando o fato da atual direção estar no comando desde que o PT foi fundado no estado. Outro argumento utilizado pela oposição é o de que o atual diretório não conseguiu fazer o PT crescer nos municípios alagoanos, obtendo fracos resultados, como nas eleições deste ano, quando elegeu apenas um prefeito, no pequeno município sertanejo de Olho d’Água do Casado, e apenas 13 vereadores em cinco municípios.
Apesar do clima interno de disputa, o lançamento da candidatura do deputado federal Paulão para o Senado em 2026 foi aprovado pelas principais lideranças do PT. Ainda que lidere a tendência “Construindo um Novo Brasil”, a mesma do presidente Lula, Paulão tem a simpatia dos demais grupos em reconhecimento ao seu papel como parlamentar mais conhecido e pela trajetória que vem desde os anos noventa, quando foi vereador e duas vezes deputado estadual. Paulão está no terceiro mandato de deputado federal.
No sentido das alianças estaduais, essa eleição não mudará muita coisa porque tanto a CNB, que é a tendência atualmente majoritária, como a Resistência, defendem a manutenção da coligação eleitoral com o PCdoB e PV, na “Frente “Brasil Esperança” e o apoio dessa frente às candidaturas do MDB para o governo de Alagoas. Assim, garantem os votos do PT para a outra candidatura ao senado, que, provavelmente, será a do senador Renan Calheiros.
Uma das preocupações dos dirigentes petistas é a de que o PT alagoano já sofreu duas intervenções do PT nacional, que, em campanhas passadas, destituiu as candidaturas majoritárias locais em nome do apoio a candidaturas do MDB. Desta vez, acreditam, o nome de Paulão deverá ser mantido porque serão duas vagas ao senado e o PT também deverá pedir votos para o nome do aliado MDB.